sábado, 31 de março de 2012

2º Ciclo de palestras “O mundo da mulher no Jardim Paraná”


Dia 21 e 22 de março, estivemos no Ceu Paz a convite de Diego Arias (professor do CEU) para desenvolver um ciclo de debates que tinha diversos temas como, o espaço ocupado pela mulher na família e na sociedade - Ana Carolina(representando o CRAS), trajetória dos cuidados com a saúde da mulher - Ivania Rodrigues da Silva (Enfermeira e Gerente da Unidade Básica de Saúde – UBS – Jardim Vista Alegre)Vulnerabilidade social feminina e a proteção social específica para a mulher - Juliana Queiroz (Bacharel em Filosofia pela PUC-SP, integrante do Coletivo Cultural Esperança Garcia), A mulher e o conhecimento - Professora Marisa, O universo feminino no mundo das artes - Raquel Almeida (Poeta, escritora, arte-educadora, integrante do Coletivo Sarau Elo da Corrente, integrante do Coletivo de Mulheres Esperança Garcia) e Quais as expectativas de uma adolescente para seu futuro como mulher - Aluna 8ª série.

Foram dois dias intensos de idéias trocadas com os alunos, professores e pais, percebemos interesse mutuo nas questões abordadas, anseio de informação, ficou nítido no segundo dia que foi aberto a perguntas, as alunas e alunos nos surpreenderam com várias questões, sobrea violência, sexualidade, saúde, racismo, etc...

Estava montada também a exposição da fotógrafa Sonia Bischain chamada "Mulheres da minha terra", Sonia realizou dias antes uma oficina de fotografia com alguns alunos, assim como Sirlene Santos realizou também oficina de dança.
O que me deixou contente, é que as alunas e alunos já estavam preparados, ou seja, nós fomos dar continuidade a um trabalho que já vem sido desenvolvido pelo professor Diego, estive na mesa com uma aluna da 8ª série e muito me impressionou o desempenho dela ao falar ao se expressar, a preparação, o cuidado ao escrever um texto e a coragem de se expressar para quase 100 alunos.

Seria maravilhoso se esse tipo de trabalho fosse realizado em todas as escolas públicas, pode ser um sonho, mas vi isso sendo realidade no CEU Paz, esperamos que esse ensino básico que é o que nos oferecem venha com mais preparo, que os professores e alunos possam trocar idéia de igual pra igual, não impor normas, nem culpar pais ou semelhantes pela falta de informação, pois independente disso sabemos que ela precisa chegar nas nossas comunidades, e seria ótimo que fosse também pela escola.

Raquel Almeida

Fotos: Sonia Bischain

Apresentação do alunos do 1º ano


Profº Diego Arias


Raquel e representante da UBS

Aluna da 8ª serie compondo a mesa

Ana representando o CRAS vista alegre

Perguntas

Exposição Sonia Bischain


sexta-feira, 30 de março de 2012

Coletivo Cultural Esperança Garcia contempladas com o VAI 2012

Saiu hoje o resultado do edital VAI (Valorização de Iniciativas Culturais) e nós Coletivo Cultural Esperança Garcia fomos contempladas.



CCJ 051
Estética Negra, uma beleza enraizada



Estamos contentes de poder contribuir de certa forma com nossa comunidade, com a mulheres das comunidades que vivemos. Será uma troca de experiências, vivências, que iremos ter o prazer de realizar com mais qualidade.

Segue o link do Programa VAI com o nome d@s contemplad@s!!!

http://programavai.blogspot.com.br/2012/03/confira-lista-dos-resultados-da-seleca

terça-feira, 27 de março de 2012

QUATRO POETISAS DA POESIA PRETA PAULISTANA




As obras fundamentais de Carolina Maria de Jesus (1914 – 1977) e de Conceição Evaristo e, sem dúvida, de outras escritoras que estão criando Brasil afora como Dinha, Miriam Alves, Cristiane Sobral, Alzira Rufino, Elisa Lucinda, Geni Guimarães, Cidinha da Silva, entre outras, semearam frutos em terras paulistanas. A literatura pensada, imaginada e idealizada por mulheres afrodescendentes não é nascente: é viva, pulsante e crescente. Basta dar uma passada em qualquer dia da semana pelos vários saraus que vêm brotando cidade af(l)ora. Neles, temas como amor, relacionamento, sociedade, política, ancestralidade, memórias, existência, entre outros, demarcam as produções de mulheres pretas dos vários cantos de São Paulo. Mulheres que frutificam a criação, representam as personas de mães, companheiras, amantes profissionais, cidadãs e “escrevevivem”. Apresentamos aqui quatro delas: Elizandra Souza, Priscila Preta, Raquel Almeida e Tula Pilar.
Três paulistanas de nascimento e uma de coração que em suas produções têm como bases comuns a oralidade na qual avós, pais e outros parentes (re) contam e (re) criam suas próprias trajetórias, suas referências; a tradição dos cordéis que se relacionam com as questões de oralidade e identidade; a cultura hip hop e de periferia, juntamente com as trocas e descobertas feitas nos saraus que frequentam: e, o ser feminino, que dia a dia se aprende a ser, mulher negra, preta.

Elizandra Souza ou Mjiba, tem 28 anos é jornalista formada pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, desde 2010 e redatora da Agenda Cultural da Periferia (Ação Educativa). Ah, e retomando as leis que durante séculos tentaram restringir o acesso de negros e mestiços aos meios de ensino formais, Elizandra foi aluna cotista (PROUNI). Agora, só no século 21, é que as leis estão mudando e tentando minimizar o grande prejuízo sofrido pela população afrodescendente.
Sua família mudou-se de São Paulo para Nova Sorue (BA), quando Elizandra tinha dois anos. Cidade de origem de seus familiares, Nova Sorue exerceu grande influência estética na moça. Deste período, carrega belas memórias, e como a poesia do cotidiano corre pelo seu sangue, ela as intitulou de “Sorriso amargo e lágrima doce”, sintetizando os momentos de visita à casa dos avôs que moravam numa fazenda, e a vontade de se deliciar saboreando castanha de caju, maça e bolacha recheada, pequenos prazeres de criança. A literatura estava presente em sua família via os livretos de cordéis da coleção de sua Tia Zefinha que, vez ou outra, contava uma história para os sobrinhos.
O seu interesse pela literatura surgiu quando, ainda menina, se juntava à sua irmã para ler pequenos livros e histórias em quadrinhos, tentando, deste modo, se esquivar do trabalho doméstico. Foi na escola que tomou contato com a poesia de Castro Alves (1847 - 1871) e de outros poetas do período romântico.

De volta a São Paulo, em 1996, conheceu a cultura hip hop e, pouco tempo depois, passou a produzir o fanzine. Sua relação com a oralidade, com os cordéis, com a cultura hip hop e o fanzine, tudo isso junto e misturado, despertou em Elizandra o desejo de escrever poesias. Nesta época passou a adotar o codinome Mjiba, que significa “jovem mulher revolucionária” nomeando as mulheres que participaram da luta armada pela independência de Zimbábue. Conheceu, e se apaixonou pelo termo, após ler o livro “Zenzele – Uma carta para a minha filha” (1996) da escritora de Zimbabue, J. Nozipo Mairare.

As suas poesias versam sobre muitas temáticas como negritude, identidade, racismo, pois como disse Elizandra: “utilizo a minha escrita como luta política, como forma de conscientização”. Mas, considera que uma das “maiores lutas do século é o amor”. Tem pensando sobre as dificuldades para a concretização das relações de amor e de respeito mútuo entre homens e mulheres negras, mais que isso, na solidão que vive a mulher negra numa sociedade na qual homens brancos e negros desejam o amor advindo do padrão de beleza feminino cristalizado. Sobre as dores e prazeres de ser mulher, Elizandra se posiciona:

Sangre mais uma vez!/ Expila do seu corpo/ O embrião não fecundado/ Junte todo o amargor/ E sangre outra vez!/ É dolorido/, Mas sinta com intensidade essa cólica/ Esse mal estar/ Mas sangre mais uma vez!/ Sangre nessa hipócrita sociedade/ Junte todas as dores expelidas/ Retire da calcinha/ Esse absorvente enxarquecido/ E jogue fora todos esses sangrados/ Mas Menstrue e Ação! MenstruAção

Elizandra já teve seus poemas publicados em várias coletâneas e antologias, como dos Cadernos Negros e possui um livro escrito em parceria com o poeta Akins Kintê e editado pela Edições Toró, chamado Punga (2007), para quem se interessar por conhecer seu trabalho. Quem desejar conhecê-la ao vivo e a versos pode tentar encontrá-la no Sarau da Cooperifa, que ocorre todas as quartas no Bar do Zé Batidão, no Jardim Guarujá, zona sul de São Paulo.

A preocupação com a saúde emocional e amorosa da mulher negra em nossa sociedade machista, sexista e racista, também é uma das preocupações e temas da poeta Priscila Santos Martins, ou Priscila Preta. Com 27 anos de idade, a poeta, formada no curso de Comunicação das Artes do Corpo da PUC (SP) também é atriz e fundadora da Companhia de Arte Negra As Capulanas. O nome Priscila Preta apareceu nas escolas privadas nas quais estudou como forma de distingui-la da maioria de “Priscilas” brancas, uma vez que era, geralmente a única negra.
Conheceu a literatura escrita ainda criança, pois por obter boas notas era presenteada com livros. Entretanto, foi ao ter aulas com um professor de literatura que também era músico que despertou para a cena artística multimídia (artes cênicas, música e literatura), já que além da criação de textos, o professor promovia a encenação das histórias cunhadas por seus alunos. O que não faz um bom professor na vida das pessoas...

As impressões e vivências cotidianas são referenciais para a sua produção artística, como a prática de sua avó Maria que era benzedeira: “... tudo que ela fazia pra mim era muito mágico, eu observava a dança de suas mãos com a arruda molhada na água com sal, ela falava palavras que nunca consegui entender e depois batia a arruda nas mãos da pessoa... Eu via isso muitas vezes no mesmo dia, mas não me cansava de ver e de ser benzida também... E eu ficava ali me apaixonando cada minuto por ela”.

A poeta de aparência forte e corpulenta, que por vezes parece até estar pronta para a guerra, em verdade é puro coração. Apesar de em sua poesia trazer a tona vários temas, são as paixões do corpo que dominam a sua escrita atualmente: homem e mulher, sensualidade e erotismo.
Preto que boca é essa?/ Vem falar aqui nas minhas ruas/ Nuas escuras/ Deixa eu provar dessa boca berinjela/ Crua/ Carnuda/ Deixa eu me achar nesse céu molhado/ Deitar nesse travesseiro algodão doce/ Preto que boca é essa?/ Seca minha língua/ Ostra minha pérola/ Espera na esquina/ Corre pro ponto/ Chega/ A.C.O.N.C.H.E.GAAAA... Enú Yanjú

Priscila acredita que a poesia hoje é uma nova forma de (re) ver a vida, “Criar outros desenhos”. Ainda no início de sua carreira como poeta, ela acredita que a poesia possa se apresentar como uma forma de minimizar a depreciação histórica do corpo, psique e coração da mulher negra, tornando-a protagonista, ao menos de suas criações. “A mulher preta durante muito tempo foi privada de muitas coisas. A liberdade é vigiada por alisantes, posturas e estigmas. Somos consideradas fogosas e muitas vezes não temos a oportunidade de fazer amor, apenas se dar pro encontro, pra troca... A poesia é minha bomba, uma forma de explodir os grandes prédios culturais do racismo, do machismo, das relações de poder e construir ocas não ocas... Casas que tem tenham pessoas, trocas e principalmente circularidade”.

Com seus poemas publicados em antologias como a III Antologia do Sarau na Brasa (2011), que frequenta há algum tempo, também pode vista declamando nos saraus da Cooperifa, do Binho e Elo da Corrente. Prefere ser chamada de poeta, afinal, como disse: “A palavra já é feminina”.
E por falar no sarau Elo da Corrente, foi Raquel Almeida da Silva, de 24 anos, que o organizou, em 2007, juntamente com outros escritores. Formada, como ela mesma explica, pelas histórias de sua família, pelas músicas e leituras que faz, pelas relações de amizade e afeto que construiu, pelas pesquisas que realiza, Raquel Almeida, como é conhecida, assim como Elizandra, também teve na literatura de cordel uma de suas primeiras referências. O Almeida de seu sobrenome e que adotou como nome artístico é uma homenagem à sua avó após ter percebido o quanto ela valorizava o sobrenome que carregava.

No caso de Raquel, também aparece um tio conhecedor de literatura de cordel que juntava os sobrinhos para recitar e realizar performances e cantorias. Alias, a música também está muito presente em sua vida familiar. Ela se recorda também de que havia muita musicalidade em seu cotidiano: “... me lembro que em todas as atividades feitas em casa, comida, limpeza, construção da casa, meu pai em especifico, cantava musicas conhecidas e no meio disso inventava canções, minha família tem uma coisa curiosa em tudo que faz, faz cantando, é engraçado (risos)”. Quando pequena observava sua mãe escrevendo poesias de forma tímida e passou a escrever também, em um caderninho, porém, ainda como um exercício, sem se preocupar com o ato da criação, da temática.

A avó, o tio, o avô, a mãe. É evidente que a questão familiar é muito importante tanto na vida quanto no processo criativo de Raquel. Muitos familiares são citados e são referenciais quando ela fala tanto de suas influências quanto de suas memórias. A sensibilidade em adotar o sobrenome que sua avó tanto se orgulhava demonstra este vínculo ancestral, que tem também a função de localizar os indivíduos nesta contemporaneidade que tem privilegiado valores individualistas. As bases de Raquel são os que estão antes dela, os que lhes dão chão, seus antepassados.

Preciso beber da fonte ancestral/ Comer feijão com farinha/ Amassado entre os dedos/ Peixe com coco e dendê/ Preciso beber dessa fonte/ Tomar banho de manjericão/ Me encolher no seu colo/ Pedindo proteção/ Preciso me alimentar dessa fonte/ Ouvir suas historias/ Transmiti-las em sonho e orgulho/ Me embalar nas tuas lembranças/ Colher frutos futuros/ Preciso beber dessa fonte/ Fonte materna de inspiração/ Prudência/ Fazer reverencia/ És a ave que escuta os ancestrais e a descendência/ Preciso beber da tua fonte... Preciso beber da fonte ancestral

Dentre as leituras de sua formação estão livros de suspense, infantis, filosóficos, e, mais uma vez, a música em forma de poesia, nas letras de rap dos Racionais MCs, que os vizinhos ouviam em alto e bom som e que sei pai achava que era música de marginal, de bandido. Proibindo seus filhos de ouvirem. Depois leu o livro do Preto Ghóez “Sociedade do Código de Barras” (2006), outro mundo que se abriu: “...li e fiquei inquieta demais, inconformada, sei lá, acho que foi um estalo que me despertou pra varias coisas”.

Pensa na poesia como um instrumento de transformação com maior poder de abrangência do que as manifestações violentas, especialmente quando o assunto é a questão racial: “... vejo que muitos conflitos e preconceitos que eu passava na infância e na adolescência sobre a identidade racial, ainda são tão presentes e agressivos nos dias de hoje, mas falar em forma de gritos, esbravejando militância nem sempre atinge quem realmente queremos, a poesia tem sido um dos meios de transmitir isso, gritando ou não”.

Para Raquel apesar do potencial transformador da poesia, é muito importante que as pessoas passem a se informar, a ler mais e a conhecer a história do país, pois sem o autoconhecimento não haverá transformação, mudança. E essa ação deve começar com o espaço no qual vivemos.
Para conhecer Raquel basta ir ao sarau Elo da Corrente, em Pirituba, e no Poesia na Brasa, na Brasilândia. Ainda é possível tomar contato com seu trabalho por meio do livro Duas Gerações - Sobrevivendo no Gueto (2008), feito em parceria com a poeta Soninha M.A.Z.O, pelo selo Ela da Corrente Edições. A poeta, ou melhor, poetisa, prefere ser chamada desta forma porque, segundo ela, esta palavra “afirma uma escrita feminina”.

Dentro deste grupo de quatro poetas, ou poetisas, Tula Pilar Ferreira, nascida em Leopoldina (MG), é a mais experiente, portanto, com uma potência feminina muito latente. A sua maneira de se mover no mundo é lascivamente feminina. A primeira vez que a vi, em 2010, no Sarau do Binho, ela apresentava uma coreografia a partir da dança do ventre, inclusive, trajada a caráter. Foi impressionante observar como os sorrisos nervosos e as brincadeiras de alguns frequentadores eram mais um mecanismo para mascarar a libido despertada pela apresentação sensual. Sim, temos problema em falar sobre sexo e desejo de uma maneira natural. Mas, a mulher é poderosa!

Formada pela vida e participante de várias oficinas e cursos livres é conhecida em São Paulo por “Pilar”, nome pelo qual lhe tratava um ex-patrão de origem espanhola. Na infância, criada em casa de pessoas com alto poder aquisitivo, teve acesso a várias leituras próprias do universo da criança das fábulas e contos de fadas europeus às aventuras dos personagens infantis de Monteiro Lobato (1882 - 1948), com os quais ficava fascinada. Se lembra até de ter estudado um pouquinho de inglês nesta época: “Tinha uma moça americana que me ensinava tudo o que perguntava, guardo na memória até hoje”. Criação de moça grã-fina.

Começou a escrever, tanto influenciada pela miríade de livros aos quais tinha acesso quanto por seu próprio desejo pessoal. Entretanto, tem consciência de que as histórias que leu a inspiraram profundamente, apesar de muitas vezes não permitirem que ela mergulhasse nas águas da leitura: “... rasgavam tudo e me mandavam trabalhar, fazer algum serviço... Eu era a menina pobre que lia todos os dias enquanto limpava”. Foi a leitura do livro Negras Raízes (1976), de Alex Haley, que a direcionou para as temáticas relacionadas à sua origem afrodescendente e lhe trouxe sabor amargo para a vida, descobrir a maneira como os escravizados norte-americanos foram tratados foi um choque. Também se identificou com o livro A Cor Púrpura (1982), de Alice Walker: “... a história dela é parecida com a minha e de minhas irmãs”.

Pilar poderia ser uma pessoa amargurada pelos percalços da vida, entretanto, é das pessoas mais positivas que conheço. Suas poesias refletem esta maneira não vitimizada de ver o mundo e falam sobre o erotismo e sensualidade e também sobre família. Acredita que a poesia está aí para quem quiser, porém que poucos conseguem compreende-la e que, por vezes, apreciar poesia ou ser poeta, pode se tornar um motivo de chacotas tanto por parte de “ricos e pobres, negros e brancos, acadêmicos ou não”. Pilar é mãe, amante, mulher. Isso é o mais fascinante em Pilar, como poucas mulheres, pretas ou não, ela consegue ser tudo isso: a “Oxum-Vênus-Negra” nessa preta é forte! Mas, ela aconselha, ele educa e prepara para vida, como as coisas deveriam ser:

Ai moleque/ Ouça o que sua mãe diz/ Tome banho/ Limpe o ouvido e o nariz/ Agora não é hora de jogar essa bola/ Não enrola, vai pra escola./ Seja inteligente/ Não faça prova copiando cola/ Caminhando ou de lotação/ Vá pedindo informação/ Pra chegar ao curso (grátis/) Lá no Capão/ À tarde tem obrigação/ Cuidar do irmão... Trecho da poesia Se Liga Moleque

NOTAS DE RODAPÉ

As mulheres/ As meninas/ As moças/ As mães e as tias da periferia/ Querem homens profundamente/ Mais educados educadores/ Mais pensantes pensadores/ Mais elegantes não só reprodutores/ Mais generosos e não geniosos/ Mais humanos cidadãos/ Porque a história tem seu ciclos sim/ E tudo se renova de olhos atentos/ E principalmente as avós/ Querem homens que enterrem seus mortos.
FAZ MUITO TEMPO, poema presente no livro Negrices em Flor (Edições Toró, 2007), de autoria da poetisa Maria Tereza, paulistana da Nova Cachoeirinha falecida em janeiro de 2012 de uma doença pouco conhecida e, no mínimo, com nome curioso: Síndrome Poems.


Renata Felinto
 é mestre em artes visuais pela UNESP, pesquisadora, artista plástica e educadora.


ELIZANDRA SOUZA
FOTO MANDELACREW



TULA PILAR
FOTO CASSIMANO (cassimano.com)




PRISCILA PRETA
FOTO CASSIMANO (cassimano.com)


RAQUEL ALMEIDA
FOTO CASSIMANO (cassimano.com)






AO (re) NASCIMENTO DE UMA DOUTORA.



AO (re) NASCIMENTO DE UMA DOUTORA.
Por Michel Yakini

Ontem fiquei orgulhoso de ser quem sou, de nascer onde nasci, de ter os amigos e amigas que a vida me presenteou. Ontem tive vontade de chorar, de chorar de raiva por nossa presença ainda estar silenciada nas vassouras e xícaras da universidade, chorar de alegria por me reconhecer no prestígio de uma doutora aprovada com todos os méritos nas cadeiras ainda injustas da academia, chorar no choro dessa menina-mulher que sempre sonhou em ser doutora, onde a maioria das jovens da sua vizinhança brincam com seus filhos precoces no colo. Ontem me senti vitorioso por ver a força e a preparação de uma mulher que falava como referência, com talento, com profissionalismo, mas emanava em seu respiro o amor e a seriedade por aquilo que faz e representa. Ontem aquela que é conhecida como uma das maiores universidades do mundo, se curvou pra celebrar uma jovem negra nascida e criada no bairro do Jaraguá, periferia de São Paulo. Curvou-se pra coroar um doutoramento pouco comum por ali, mas nada podia evitar esse merecido apogeu.

Hoje as periferias do Brasil acordaram sorrindo, e muitos nem sabem porque, poucos estavam lá pra conferir, mas esse motivo de brinde, já era! É nosso e ninguém tira. Hoje o bairro do Jaraguá, usurpado e estuprado por suas riquezas há mais de 400 anos, que tem o privilégio de conviver com uma herança indígena viva e precária em meio a sua bela netureza, pode soltar um grito de vitória. Hoje é dia de subir no ponto mais alto daquele pico magistral e gritar que temos orgulho de sermos vizinhos, amigos e familiares de uma mulher que carrega quilombo no nome, é dia de bradar bem alto pra cidade inteira ouvir e saber que temos uma doutora entre nós. Uma doutora sem pompa de carpete, que caminha pelas ladeiras, caleja no asfalto, e trás como armadura as páginas do conhecimento. Uma doutora que afaga o concreto com sua semente de sabedoria, rasgando pedras com as raízes de uma arvore que dá frutos maduros e sombra aos seus semelhantes.

E por mais que ela não assuma ou não goste de ser vista além de uma reconhecida pesquisadora, ela é, sem dúvida, uma referência positiva para nós, alguém que contribui pra que a periferia caminhe e vingue dias melhores sem sair do seu lugar, do nosso lugar. Hoje é dia de cantar parabéns pra gente! Cantar parabéns pra você! De fazer festa e batucada no fundo de cada quintal por sua/nossa conquista, DRA. ÉRICA PEÇANHA DO (re)NASCIMENTO, aprovada ontem (23/03/2012) com a tese "É Tudo Nosso! Produção Cultural na Periferia Paulistana" pela Universidade de São Paulo (USP).

terça-feira, 20 de março de 2012

2º Ciclo de palestras “O mundo da mulher no Jardim Paraná”


O objetivo do evento é proporcionar uma reflexão social e política sobre o Dia das Mulheres e reforçar o sentido de sua comemoração. Além de auxiliar na aproximação entre mães e filhas/ filhos de nossa comunidade a partir da reflexão conjunta sobre a amplitude e especificidades da condição feminina, propondo um prisma que não exclui sua existência como mãe, mas não privilegia funções como dona de casa e combate os estereótipos que remetem sua existência como objeto sexual e ser inferior física e intelectualmente ao homem.

A programação do evento contará com a participação de um variado número de profissionais e artistas que facilitarão a reflexão sobre os temas propostos.



Público convidado: Cerca de 120 Alunas e Alunos do 9º ano (faixa etária entre 13 e 15 anos) acompanhadas(os) de suas mães, além de outras mães de outros alunos de outros anos.



Programação do evento:



Dia 21/03:

10:00 – Cerimonia de abertura (Profº Diego Arias dará as boas vindas, lerá uma carta depoimento e fará agradecimentos necessários. Haverá citação da tragédia das trabalhadoras da indústria têxtil no EUA, mas o foco estará na tragédia contemporânea)



10:10 – Composição da Mesa: Professora Marisa ou Alexandra; Raquel Almeida (poeta), Mãe de aluna, aluna, Ana Carolina (CRAS), Ivania (UBS), Juliana Queiroz (Educadora Social).



10:20 – O espaço ocupado pela mulher na família e na sociedade – Ana Carolina Teixeira Maria (Assistente Social do Centro de Referência em Assistência Social – CRAS – Brasilândia III/Vista Alegre). O objetivo com a proposição do tema é situar a existência feminina além do ambiente doméstico e refletir sobre sua participação na sociedade com base nos atendimentos realizados pelo CRAS Brasilândia III/Vista Alegre.



10:35 – Uma trajetória dos cuidados com a saúde da mulher (da menstruação à menopausa) – Ivania Rodrigues da Silva (Enfermeira e Gerente da Unidade Básica de Saúde – UBS – Jardim Vista Alegre). A aproximação entre mães e filhas/filhos é fator de grande impacto na aprendizagem de nossas(os) estudantes, além de contribuir também para seu desenvolvimento social e afetivo. Com este tema nosso objetivo é reforçar o conhecimento que uma tem sobre a outra (ou que os meninos têm sobre as mulheres de sua família), proporcionar uma oportunidade de ampliação do autoconhecimento do gênero feminino e criar situação que fortalece os laços afetivos de cumplicidade, solidariedade e respeito a partir do tratamento de questões específicas sobre a saúde da mulher.



10:50 – Vulnerabilidade social feminina e a proteção social específica para a mulher – Juliana Queiroz (Bacharel em Filosofia pela PUC-SP, integrante do Coletivo Cultural Esperança Garcia). Vítima de inúmeras violências, o gênero feminino demanda uma série de legislações específicas e atendimentos especializados. Com este tema pretendemos apresentar à parcela da comunidade presente uma reflexão sobre as alternativas postas às mulheres em situação de violência.



 11:05 – O que é ser mulher no Jardim Paraná e no mundo. Mãe de Aluna . Com este convite especial pretendemos ouvir de uma das mulheres de nossa comunidade sua reflexão sobre a condição feminina dentro do Jardim Paraná, comunidade que vive a realidade presente nas periferias de São Paulo.





11:10 a 12:00 – Apresentações Musicais. (Coral com alunas(os) do 1º ano, Poema Alunas, Música Samanta Biotti, Dança Alunas –  com Sirlene Santos.





 Dia 22/03



10:00 – Breve reabertura



10:05 – Breve reapresentação das componentes da mesa.



10:15 – A mulher e o conhecimento – Professora Marisa ou Alexandra (apresentar área de formação e principais atividades). A escola é o local de atuação profissional de diversas representantes do gênero feminino, mas não é palco exclusivo desta. Com uma reflexão pautada em sua experiência no processo de busca, aquisição e desenvolvimento do conhecimento o objetivo com a proposição deste tema é apresentar à nossa comunidade um conjunto de trajetórias possíveis a partir do manuseio dos conhecimentos adquiridos e almejados.



10:30 – O universo feminino no mundo das artes – Raquel Almeida (Poeta, escritora, arte-educadora, integrante do Coletivo Sarau Elo da Corrente, integrante do Coletivo de Mulheres Esperança Garcia). Permeada pelo machismo, nossa sociedade pouco conhece e pouco se habituou a desejar, refletir ou mesmo aceitar manifestações artísticas que não estivessem ligadas ao universo masculino. A presença da mulher nas artes não é sinônimo de sua concepção subjetiva. Com este tema pretendemos apresentar à nossa comunidade uma reflexão sobre uma arte que não tem origem numa concepção de superioridade do gênero masculino sobre o feminino, nem tampouco no contrário. Mas uma arte que representa uma visão de mundo, a feminina.



10:45 – Quais as expectativas de uma adolescente para seu futuro como mulher – o que ofereço ao mundo e o que espero dele - Aluna da 8ª série. Propositalmente programada como última fala antes do debate, a proposta é que nossa aluna se veja envolvida e preenchida por suas concepções pessoais anteriores ao evento e também pelo conhecimento que agregou durante o evento para nos falar sobre seu entendimento acerca do desafio de ser mulher em uma sociedade em que o machismo ainda encontrará bastante espaço, infelizmente, mas que também será vivamente combatido.



11:00 – Inicio do debate e perguntas.



11:30 – Apresentações artísticas (Poema com Raquel, Música alunas, dança Sirlene).



11:50 – Apresentação do Coletivo de Mulheres Esperança Garcia.



12:00 – Encerramento.





Oficinas:


Dia 07/03: Oficina de fotografia com Sonia R. Bischain (Fotografa, integrante do Coletivo Cultural Poesia na Brasa) na sala de informática. Com esta oficina pretende-se envolver nossas(os) estudantes com as possibilidades artísticas a partir do trabalho fotográfico e, ainda, proporcionar uma reflexão sobre a sensibilidade deste trabalho no tratamento com o tema feminino.



Dia 12/03: Oficina de dança com Sirlene (estudante de educação física, dançarina, integrante do Coletivo de Mulheres Esperança Garcia e do Grupo de Dança Contemporânea e Afro Tembuá) em um estúdio no prédio da gestão. Com esta oficina pretende-se desenvolver em nossas estudantes um perspectiva diferenciada sobre a expressão corporal além de combater a banalização de gestos femininos – com sua associação direta à sexualidade – tão frequente em nossa sociedade.





 Exposição:



De 10/03 a 23/03 - Exposição fotográfica com tema relacionado ao universo feminino. A exposição será composta com obras da fotógrafa Sonia Bischain e com obras elaboradas pelas alunas em conjunto com a fotógrafa.

  



Proposta de avaliação para estudantes do 9º ano:

Redação:

Meninas: que mulher sou? sou respeitada?

Meninos: Como vejo as mulheres? Eu as respeito?

terça-feira, 13 de março de 2012

imagens/google


26/03(Segunda-Feira)
Formação com mães e responsáveis do MSE Nossa Senhora Aparecida.
Tema: Mulher e Sociedade
14 horas

terça-feira, 6 de março de 2012

II Encontro do Cabelo Black Power 2012








No dia 07 de Abril acontecerá na Casa de Angola o IIº Encontro do Cabelo Black Power . 
Compareça e venha desfilar seu black.Aguardem mais informações! Entrada  Gratuita

Casa de Angola de Osasco
Avenida dos Autonomistas, 1.828 - Centro - Cidade Osasco - SP CEP: 06020-010
(11) 3699-9400