Indicações


Indicações 

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Clementina de Jesus - uma breve trajetória fotobiográfica: em cartaz até 2/9 na Galeria Olido, entrada franca. Integrando a programação do Desde que o Samba é Sampa.

Projeto tem homenagem a Clementina de Jesus e debates sobre o samba LUCAS NOBILE COLABORAÇÃO PARA A FOLHA



Morta no dia 19 de julho de 1987 em decorrência de um derrame, Clementina de Jesus (1901-1987) é frequentemente esquecida em seu próprio país.
Seus discos estão fora de catálogo há anos e trabalhos que lembrem a importância da cantora --nascida na cidade fluminense de Valença e descoberta em 1962, quando já tinha 60 anos, por Hermínio Bello de Carvalho-- são cada vez mais escassos.

Clementina de Jesus

As cantoras Dona Ivone Lara (à esq.) e Clementina de Jesus durante encontro em 1980, na Bahia
Na contramão dessa indiferença com a artista que mais aproximou a cultura musical brasileira com nossos antepassados africanos, tem início hoje, na Galeria Olido, um projeto de curta duração, mas que tem Clementina como sua principal homenageada.
Idealizado pela jornalista, produtora e pesquisadora Maitê Freitas, o projeto "Desde que o Samba é Sampa" terá duas atividades diretamente ligadas a Clementina. Uma delas é a exibição do documentário "Clementina de Jesus - Rainha Quelé", dirigido por Werinton Kermes (leia mais abaixo), que acontece nesta sexta (17), às 19h, na Galeria Olido.
A outra, de hoje até o dia 2 de setembro, no mesmo local, é a exposição "Clementina de Jesus - Uma Breve Trajetória Foto-Biográfica". A mostra, que teve curadoria de Werinton Kermes, Maitê Freitas, Daniela Barros e colaboração de Heron Coelho, conta com 32 fotos da cantora.
"Essas imagens mostram desde o cotidiano dela, fazendo comida, passando roupa até registros com nomes como Cartola. São 32 fotos e a ideia é, mais pra frente, fazer uma exposição maior, com 100 imagens dela a que tivemos acesso", diz Maitê Freitas.
MUITO ALÉM DE CLEMENTINA
Sem dúvidas, as homenagens a Clementina são merecidas. Mais justo ainda é o fato de o projeto "Desde que o Samba é Sampa" não se limitar à obra da intérprete, propondo um estudo mais amplo sobre o gênero musical mais tradicional do país.
Concebido no ano passado por Maitê Freitas, o projeto foi contemplado pelo edital VAI (Valorização a Iniciativas Artísticas), da prefeitura de São Paulo.
"A minha ideia inicial era de fazer um mapeamento das rodas de samba de São Paulo, com a intenção de criar um guia de serviços para a comunidade mesmo. Mas eu percebi que antes eu precisava estudar a importância das rodas de samba e seu ambiente sagrado", explica a curadora.
Nesta linha de pesquisa, o projeto terá quatro mesas de debates com temas diversificados, com a participação de nomes de muitas áreas, desde historiadores, pesquisadores e antropólogos até músicos ligados, obviamente, ao universo do samba.
A primeira, que acontece hoje, das 16h às 18h, vai discutir a relação entre o samba produzido em São Paulo e a urbanização da cidade. Já a segunda, que ocorre da 18h30 às 20h30, vai abordar a construção da identidade de uma roda de samba.
Nesta sexta, mais duas mesas de debate: das 14h às 16h, será discutida a importância da sonoridade percussiva resultante da Diáspora Africana e a herança musical deixada ao povo brasileiro. Na sequência, das 16h30 às 18h30, bate-papo sobre o ambiente sagrado das rodas, os encontros de gerações no samba e a maneira como ele dialoga com a sociedade.
"Fizemos um recorte ao escolher o samba, mas o projeto trata da música brasileira em geral. Espero que seja só o começo para que aconteçam outras edições", diz Maitê Freitas.
Além dos debates, o projeto também contará com a exibição de dois documentários neste sábado, na Casa de Cultura Palhaço Carequinha, no Grajaú. Das 14h às 15h, "Sou Negro, Não Sei Sambar", de Patrício Salgado. Das 15h30 às 17h, "Geraldo Filme", de Carlos Cortez.
Também no sábado, marcado o encerramento da primeira edição do "Desde que o Samba é Sampa", o projeto terá uma roda de samba com o grupo Virado a Paulista, também no Grajaú, das 17h30 às 19h.
CLEMENTINA, A MÃE QUELÉ
Realizado em 2011 por Werinton Kermes e Heron Coelho, o documentário "Clementina de Jesus - Rainha Quelé" foi exibido neste ano no festival In-Edit Brasil e segue pouco divulgado.
Um dos principais atrativos da programação do "Desde que o Samba é Sampa", o filme retrata a importância da figura de Clementina para a música brasileira, contando com imagens da cantora em programas de televisão e entrevistas dadas pela própria artista.
Além disso, conta com depoimentos de nomes como Paulinho da Viola, João Bosco, Cristina Buarque, Martinho da Vila, Carlinhos Vergueiro, Mônica Salmaso, Olivia Bayton, Grupo Fundo de Quintal, Leci Brandão, entre outros.
Em relação à forma, o documentário é extremamente tradicional. Neste caso, o que importa, de fato, é o conteúdo e a intenção de mostrar às novas gerações a importância da figura de Clementina de Jesus, a "heroína da resistência negra" e uma das cantoras mais autênticas que já surgiram no Brasil.
"Clementina de Jesus - Rainha Quelé" cumpre sua função didática e documental ao apresentar o "estilo Clementina", com informações sobre toda sua trajetória e sua breve, mas fundamental discografia.
DESDE QUE O SAMBA É SAMPA
QUANDO quinta (16), sexta (17) e sábado (18)
ONDE Galeria Olido (av. São João, 473, centro; tel. 0/xx/11/3331-8399) e Casa de Cultura Palhaço Carequinha (r. Professor Oscar Barreto Filho Carequinha, 50, Grajaú)
QUANTO grátis
CLASSIFICAÇÃO livre





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Mulheres

que cantam e encantam o "Diário de Naná
Conheça um pouco da história de Virgínia Rodrigues, Gaiaku Luiza, Dona Edith do Prato, Dalva do Samba e Mãe Filhinha, que guiam a viagem do percussionista pernambucano, Naná Vasconcelos pela musicalidade do recôncavo baiano.

Virgínia Rodrigues

Da infância pobre em Salvador ao posto de diva da música brasileira que alcançou mais reconhecimento no exterior do que em seu próprio país, a cantora baiana Virgínia Rodrigues percorreu um longo caminho. Naquele espaço, onde surgira nos anos 60 o movimento Tropicalista, Caetano Veloso foi apresentado à Virgínia e às suas técnicas de canto lírico e referências populares que trazia da infância tomada pela diversidade radiofônica da época e pelo ritmo das procissões que frequentava com a avó. O encontro (e o encanto) aconteceu em um ensaio da peça Bye bye Pelô, na qual Virgínia cantava uma música tradicional na procissão do Senhor Morto, realizada durante a Semana Santa, parte do imaginário afetivo do jovem Caetano na cidade de Santo Amaro da Purificação. Não demorou para o projeto de um disco com a cantora sair do papel, com direção artística do próprio Caetano.

Desde então a cantora gravou três discos pela Natasha Records, Sol Negro (1997), Nós (2000) – uma seleção do repertório dos blocos afro da Bahia -, e Mares Profundos (2003), com releituras dos afro sambas de Vinicius de Moraes e Baden Powell. Em 2008, a cantora lança Recomeço  (Biscoito Fino), um disco de voz e piano com o músico Cristóvão Bastos. O encontro do erudito com o popular é mote dos quatro trabalhos de Vírginia Rodrigues, intrumentos de sopro, cordas e percussão, aliados ao canto de verve lírica e ao excelente repertório – uma mistura de resgate de canções tradicionais do nordeste, canto popular e MPB, além, é claro, de muita reverência a toda sua ancestralidade Banto. Essas qualidades agradaram um público mais tímido no Brasil e audiências mais entusiastas nos EUA e na Europa. Um dos admiradores ilustres da cantora é Bill Clinton, ex-presidente dos Estados Unidos, que a conheceu em uma visita oficial ao Brasil em 1997, e teve uma apresentação da cantora em sua homenagem, em 2001, quando Clinton retornou ao país para uma palestra em São Paulo.

No final de 2010, Virgínia Rodrigues se apresentou em palcos cariocas, na programação do Solar de Botafogo – espaço que nasceu dedicado ao teatro e que recentemente inaugurou suas sessões musicais com excelente programação. O show, com o violonista Alex Mesquita e participações do violoncelista Iura Ranevsky  e de Bnegão, trazia um apanhado da carreira da cantora, que pretende transportar o formato do show para um disco. Outro projeto de Virgínia é o lançamento de um álbum só com músicas em Quicongo e Quimbundo, duas línguas africanas, como fez o músico baiano Taingá Santana – único cantor brasileiro a gravar um disco em línguas africanas. “Vou ser a segunda artista brasileira a gravar em Quicongo e Quimbundo,  porque o primeiro foi ele”, afirma a cantora baiana.

Fonte:
“Virgínia Rodrigues: a voz de alguém quando vem do coração”. Bruno Duarte e Marcio Debellian (foto1: Tomás Rangel). Saraiva Conteúdo.

Mais informações:
Entrevista exclusiva de Virgínia Rodrigues ao Saraiva Conteúdo



Naná Vasconcelos e Virgínia Rodrigues 





Gaiaku Luiza

Uma das mais importantes sacerdotisas das chamadas religiões de matriz africana do século XX, Gaiaku Luiza de Oyá, faria amanhã, se estivesse viva, 100 anos. O legado desta senhora se fundamenta num saber litúrgico impressionante acerca das várias nações de candomblé, o Angola, o Ketu, o Jeje, e essa variância de complexa tradução, sua marca mais precisa, pode ser verificada na criação de um terreiro inteiramente dedicado ao Jeje-Mahi, nos idos de 1959, na bela e negra cidade de Cachoeira.
D. Luiza de Oyá, mãe de muita inspiração espiritual, faleceu no dia 20 de junho de 2005, em seu templo religioso, o Húnkpámè Ayíonó  Huntóloji, casa que ilustra a grandeza desta sacerdotisa tão pouco conhecida dos baianos e brasileiros. Foi-se aos 95 anos de uma vida longeva, lúcida, comunicativa, criadora e sábia. A sabedoria foi a marca principal da Gaiaku que carregava o vodum das tempestades e do silêncio mortuário, rainha do branco na ligação da terra aos céus, morada dos nossos maiorais: Oyá, conhecida também, pelos filhos do Ketu, como Iansã.
Luiza Franquelina da Rocha viveu as delícias e agruras do povo-de-santo cachoeirano, nascendo no seio do candomblé, respirando os ares de uma recente abolição da escravatura, num universo racista que não respeitava as tradições religiosas de origem africana reinventadas no Brasil. Uma mulher nascida em 1909, de beleza e inteligência raras, que percorreu quase todo o século XX salvaguardando a liturgia desta nação ritual tão pouco conhecida de nós todos. Mais que baluarte, ela foi mestra pedagógica do que chamamos, em síntese, de candomblé. Recebia a todos em sua casa, sentada em sua cadeira, hospitaleira e majestosa, para mim, foi a real imperadora desta religião tão rica de significados, porque abrigava como mãe, ensinava como mestra, distraía como amiga, aconselhava em sua sabedoria, enriquecia-nos com palavras e iluminava como sacerdotisa. Que tardes deliciosas ela nos proporcionava com sua memória prodigiosa; quantas histórias e quanta luz de uma intelectualidade construída fora das formas das academias.
D. Luiza era uma espécie de tempero celeste que nos fazia imaginar outras senhoras do candomblé, como D. Aninha de Afonjá, a saudosa Obá Biyi, fundadora do Ilê Axé Opô Afonjá. Gaiaku Luiza corporificava sua cidade Cachoeira, com uma presença de espírito que a colocava como uma cidadã do mundo, que morou em outros lugares, como Salvador e Rio de Janeiro.
Oyá venta a memória de sua filha entre nós. Gaiaku, como era chamada respeitosamente, deixou seguidores; entre as mais coadunadas aos ensinamentos da grande mãe, está Mãe Zulmira de Nanã, potentado de saber, ligação entre três nações de candomblé – o Jeje-Mahi, o Ketu e o Angola, nação pela qual Mãe Zulmira cultua, em seu terreiro em Lauro de Freitas, as entidades legadas por nossos ancestrais africanos. 

Fonte:
O Legado de Gaiaku Luiza, por Marlon Marcos. Jornal “A Tarde”

Mais informações:
Gaiaku Luiza (trecho do livro “Gaiaku Luiza e atrajetória do jeje-mahi”, de Marcos Carvalho)


Gaiaku Luiza no documentário "Diário de Naná" 





Documentário “Gaiaku Luiza: força e magia dos voduns” (Direção: Soraya Mesquita)




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Dona Edith do Prato
(Edith Oliveira Nogueira)

Começou como cantora de sambas de roda em Santo Amaro da Purificação (BA), quase todos de domínio público. Cantava se acompanhando com uma curiosa percussão, raspando uma faca em um prato, origem de seu nome artístico, extraindo um som extremamente animado.

Sua estreia artística ocorreu no início da década de 70, em Feira de Santana (BA), em um grupo de teatro amador, do qual fazia parte o jornalista Luís Pimentel. Em 1973, gravou pela primeira vez, cantando alguns sambas de roda tradicionais no disco "Araçá azul", de Caetano Veloso, nas faixas "Viola meu bem" e "Sugar Cane Fields Forever". O primeiro CD saiu somente em 2003, "Vozes da Purificação", produzido por J. Veloso e inaugurando o selo Quitanda, da cantora Maria Bethânia. O segundo trabalho lançado foi o DVD "Dona Edith do Prato e Vozes da Purificação", lançado em 2006, e posteriormente lançado também em CD.

Edith do Prato é reconhecida como um ícone sonoro da música tradicional da Bahia, representante dos sambas e chulas, assim como fora Clementina de Jesus anteriormente com o samba carioca. É admirada por diversos críticos músicos e artistas, que conhecem de perto seu trabalho, como Maria Bethânia, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Roque Ferreira, Mariene de Castro, entre outros. Dona Edith faleceu em 09 de janeiro de 2009, em consequência de um acidente vascular cerebral.

Fonte:

Mais informações:
Dona Edith do Prato canta com Caetano Veloso,Dazinho e Rodrigo Veloso em Santo Amaro


Mariene de Castro sobre Dona Edith do Prato

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Dalva do Samba

Dalva Damiana de Freitas, nascida em 1927, é um ícone do samba de roda de Cachoeira. Ela trabalhava na extinta fábrica de charutos Suerdieck, onde, com suas companheiras, passou a organizar um grupo de samba de roda que existe há mais de 40 anos. Além de coordenar o Samba de Roda Suerdieck, Dona Dalva é integrante da Irmandade da Boa Morte.

Há mais de 20 anos, ela mantém o Samba de Roda Mirim Dalva Xodó, que reúne crianças e adolescentes carentes em permanente continuidade na tradição do samba, desenvolvendo indumentárias e instrumentos de trabalho de educação patrimonial.

Dalva Damiana só estudou até o “segundo livro”, o que corresponde ao ensino fundamental, mas tem uma história de vida vasta, que representa a cultura de Cachoeira, a tradição do samba de roda, a religião e os costumes do Recôncavo da Bahia.

Já recebeu diversas homenagens, dentre elas como Griô, pela sua contribuição para a cultura popular na cidade de Cachoeira e para o Samba de Roda como um Patrimônio da Humanidade. Já palestrou sobre assuntos referentes ao Patrimônio Imaterial “Samba de Roda do Recôncavo” para diversos grupos sociais e educacionais, sendo várias vezes objeto de estudos acadêmicos.

Possuidora de um vasto repertório musical, contribuiu significativamente para o Samba de Roda do Recôncavo baiano como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil e Obra Prima do Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade: o primeiro título reconhecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e o segundo pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).

Atualmente Dona Dalva é aposentada, integrante da Irmandade da Boa Morte e preside a Associação Cultural do Samba de Roda “Dalva Damiana de Freitas”, em que possui como parceira a Associação de Pesquisa em Cultura Popular e Música Tradicional do Recôncavo.

Fonte:
Jornal Reverso e Blog Cachoeira Online

Mais informações:
“O samba não pode morrer”. Entrevista de Dalva Damiana. Reverso- Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da UFRB Cachoeira/BA. n. 04. Dez/2007. 


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Mãe Filhinha
Com 108 anos, "Mãe Filhinha" (Narcisa Cândida Conceição) é a mais antiga das irmãs da Irmandade da Boa Morte, em Cachoeira (BA).

A mais antiga das irmãs é Mãe Filhinha, cuja própria história é feita de mito e ancestralidade. Era ainda muito pequena quando avistou Iemanjá chamando-a para dentro das águas, num lugar conhecido como Porto Preto, lá pelas banda do Rio Paraguaçu. Salvou-se quando a água estava quase cobrindo seu corpo. "Sabe meu filho, eu sou tão das águas que vim ao mundo no meio de um riacho. Então minha mãe me pegou dentro da saia e me levantou, escorrendo água por todos os lados. Quando eu nasci, fui coada", conta ela que, foi declarada filha de Iemanjá Ogunté no terreiro de Zé da Lama, em São Gonçalo dos Campos, cidade próxima à Salvador, nos idos da  década de 40. Levou um ano "suspensa", como ela diz: "Seis meses dentro e mais seis meses do lado de fora da roça em que eu fui feita. Só depois é que eu abri, com todos  os direitos, minha casa, o Ilê Axé Itaylê". O significado do nome, como manda a tradição de família e da nação nagô-vodunce, não pode ser revelado.

É representante máxima do fluxo em que "o mito eterniza e o rito faz repetir o que deuses, heróis e ancestrais teriam lançado como conhecimento verdadeiro do mundo, ab origine", Mãe Filhinha considera sua entrada na irmandade o ato que salvou sua vida: "Eu fazia panela de barro, sentada aqui, nesse chão. Era uma vida triste. Isso eu não tenho vergonha de dizer a ninguém. Até o dia  em que levei três noites sonhando com Nossa Senhora da Boa Morte. Depois, dentro do sonho mesmo, em que eu estava encafifada com ela, eu disse, 'Oh! Minha Mãe, se vós tem vontade de eu caminhar, dar uns passos  com vós, vós me ajude, me tire dese fracasso em que estou'. Ela me ajudou e foi assim que entrei para a irmandade, e dela só saio depois de morta".

Fotos: Adenor Gondim
Fonte:

Olhos que o tempo não esquece. Diógenes Moura/fotos: Adenor Gondim. Revista Mag!. Ano 02. 2006.

Documentário “Mãe Filhinha 105 anos de oferenda à Iemanjá” (Direção: Lu Cachoeira)




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      O filme For Colored Girls já foi lançado nos Estados Unidos, mas aqui no Brasil, nem sombra, ainda. O nome é “Para garotas de Cor”, a tradução exata não seria bem essa (eu acho), mas compreendo a intenção, seria algo como “Para garotas Negras”


        O filme é realizado por Tyler Perry, baseado em 20 poemas de Ntozake Shange, onde mulheres sem nome com algo em comum, a cor, falam de amor, o aborto, a violação, violência doméstica, estupro e abandono. 
Uma obra que valoriza à força da mulheres negras.

Interpretado por  oito mulheres pretas: Loretta Devine, Janet Jackson, Kimberly Elise, Anika Noni, Tessa Thompson, Whoopi Goldberg , Thandie Newton , Kerry Washington e ainda Macy Gray fazendo uma participação pequena.

Procurei e encontrei o link para Download, do filme com legenda em português:http://www.fileserve.com/file/GGMD87H


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" Os nove pentes d'África", estréia de Cidinha da Silva na cena literária juvenil, tradição e contemporaneidade tecem um bordado de poesia e surpresa na tela de uma família negra brasileira. Os pentes herdados pelos nove netos de Francisco Ayrá são a pedra de toque para abordar a pulsão de vida presente nas experiências das personagens e rituais cotidianos da narrativa.  

(http://cidinhadasilva.blogspot.com.br)
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Edison Carneiro foi um dos maiores estudiosos das origens e influências do negro
brasileiro. Formado em ciências jurídicas pela Faculdade de Direito da Bahia, em
1936, iniciou atividade de escritor e pesquisador, chegando a integrar a Academia dos
Rebeldes juntamente com Jorge Amado. Em 1939, fixou residência no Rio de Janeiro e
assinou obras importantes como Negros bantus (1937), O Quilombo dos Palmares (1947),
Folclore no Brasil (1963) e Religiões negras (1966).

(http://aruandamundi.ning.com)

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MITOLOGIA DOS ORIXAS - Autor Reginaldo Prandi.Ilustrações Pedro Rafael, Capa Raul Loureiro, 624 páginas.

Mitologia dos orixás, escrito pelo do sociólogo Reginaldo Prandi, é um dos livros mais completos coleção de mitos da religião dos orixás. Escrito incrivelmente com 301 relatos mitológicos apresentando os deuses desse riquíssimo panteão africano que sobrevive em nosso Brasil e outros paises latinos.  Cada mito tem sua importancia para a religão afro descente, cada passagem, surpresa. segredo deixa os deuses orixas mais proximos a nós.  Narrativa com deuses como Exu, Ogum, Iemanjá e Iansã, Mitologia dos orixás vale a pena ler e conhecer nosso patrimônio cultural  iorubá- nagô. 

(Agatha Oyassi)

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Sinopse: Uma mensagem de amor, misericórdia e bondade. O ano é 1948 e Aurora Martin chega ao convento de Canossian, onde Bakhita acabou de morrer, e acaba recordando a incrível vida da mulher que cuidou dela quando menina. Nascida em uma vila no Sudão, sequestrada por traficantes e vendida a Frederico Martin, um mercador italiano. De volta à Itália, Bahkita se torna baba de Aurora, que perdeu sua mãe no nascimento. Mesmo com uma violenta oposição dos camponeses e moradores locais, Bakhita abraça a fé católica graças ao Padre Antonio. Contrariado, Frederico Martin não aceita, pois a considera sua propriedade, e agora vai caçá-la a fim de trazê-la de volta. No ano de 2000 ela foi declarada Santa pelo Papa João Paulo II.
Direção: Giacomo Campiotti.
 
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23 de junho... 
"Passei no açougue para comprar meio quilo de carne para bife. Os preços eram 24 e 28. Fiquei nervosa com a diferença de preços. O açougueiro explicou que o filé é mais caro. Pensei na desventura da vaca, a escrava do homem. Que passa existência no mato, se alimenta com vegetais, gosta de sal mas o homem não dá porque custa caro. Depois de morta é dividida. Tabelada e selecionada. E morre quando o homem quer. Em vida dá dinheiro ao homem. E morta enriquece o homem. Enfim, o mundo é como branco quer. Eu não sou branca, não tenho nada com estas desorganizações”. (p. 63)


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Sinopse (filme): Georgia, 1909. Em uma pequena cidade Celie (Whoopi Goldberg), uma jovem com apenas 14 anos que foi violentada pelo pai, se torna mãe de duas crianças. Além de perder a capacidade de procriar, Celie imediatamente é separada dos filhos e da única pessoa no mundo que a ama, sua irmã, e é doada a “Mister” (Danny Glover), que a trata simultaneamente como escrava e companheira. Grande parte da brutalidade de Mister provêm por alimentar uma forte paixão por Shug Avery (Margaret Avery), uma sensual cantora de blues. Celie fica muito solitária e compartilha sua tristeza em cartas (a única forma de manter a sanidade em um mundo onde poucos a ouvem), primeiramente com Deus e depois com a irmã Nettie (Akosua Busia), missionária na África. Mas quando Shug, aliada à forte Sofia (Oprah Winfrey), esposa de Harpo (Willard E. Pugh), filho de Mister, entram na sua vida, Celie revela seu espírito brilhante, ganhando consciência do seu valor e das possibilidades que o mundo lhe oferece.

Trecho do livro: 
"(...)Querido Deus, passei o dia todo do meu casamento fugindo do menino mais velho. A mamãe dele morreu nos braço dele, e ele não quer nem "iscutar" falar de uma nova mamãe. Ele pegou uma pedra e rebentou minha cabeça. O sangue correu todo em cima de mim, "nos meus" peito. O pai dele diz, “Num faz isso!” Mas é tudo que ele diz. Ele tem quatro criança, e não três, dois menino, e duas menina. O cabelo das menina num viu pente des’que a mãe delas morreu. eu digo pra ele queu vou ter que cortar tudo. Pra cumeçar a crescer de novo. Ele diz que da azar cortar cabelo de mulher(...)"



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Evento: Folha promove sessão gratuita do documentário “Leite e Ferro”

Folha e o Cine Livraria Cultura promovem na segunda-feira, dia 21, às 20h, a pré-estreia gratuita do documentário “Leite e Ferro”, de Claudia Priscilla.
A produção brasileira de 2010 aborda o universo das mulheres presas que amamentam os filhos na cadeia.
Após a sessão, a diretora debate com o cineasta Francisco Cesar Filho. As senhas podem ser retiradas na bilheteria (av. Paulista, 2.073), a partir das 19h no dia do evento.
Documentário "Leite e Ferro" de Claudia Priscilla























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imagens google
Rosana Paulino


A Identidade da mulher  negra na obra da  Rosana Paulino

Rosana Paulino (São Paulo SP 1967). artista plástica. Entre 1993 e 1995, fez estágio no ateliê de restauro de obras de arte do MAC/USP. Em 1994, freqüenta curso livre de gravura no ateliê do Museu Lasar Segall. Cursou artes plásticas na ECA/USP e tornou-se bacharel em gravura em 1995. Na Inglaterra, fez estágio de aprimoramento em técnicas de gravuras, no London Print Workshop - LPW, com bolsa concedida pela Apartes/Capes em 1998. Possui obras nos acervos do MAM/SP, da Pinacoteca Municipal/Centro Cultural São Paulo e da Fundação Cultural Cassiano Ricardo, São José dos Campos.
Rosana Paulino vive e trabalha em São Paulo, Brasil. Desde o início de sua carreira Rosana vem se destacando por sua produção ligada a questões sociais, étnicas e de gênero. Seus trabalhos têm como foco principal a posição da mulher negra dentro da sociedade brasileira. A artista participou de diversas exposições, tanto no Brasil como no exterior. Em 1998 a artista viajou para Londres com bolsa de estudos do governo brasileiro para especialização em gravura no London Print Studio. Atualmente, Rosana é doutoranda em Poéticas Visuais pela Escola de Comunicações e Artes da USP.
Breve amostra de algumas obras:

A quebra das correntes.
















Um ninho para o coração de quem se ama. 2011.



















Fé, vida e beleza.

Proteção extrema contra a dor e o sofrimento(2). 2011.

Por amarem e confiarem demais tecido, grafite, aquarela e         costura. 2011.





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A vida secreta das abelhas

Vida Secreta das Abelhas (The Secret Life of Bees) é um filme de 2008, adaptado da obra literária com o mesmo nome de Sue Monk Kidd. O filme foi realizado por Gina Prince-Bythewood, produzido por Will Smith e com produção exectutiva de Jada Pinkett Smith.

Sinopse
O filme conta a história de Lilly, que se culpa pela morte de sua mãe e tem um pai que a maltrata e, com certa cólera, recusa-se a contar sobre a sua mãe. No dia do aniversário de 14 anos de Lilly, ele diz mentiras sobre a sua mãe, e, amargurada, foge de casa com Rosaleen, sua amiga e babá para Carolina do Sul por uma dica de que a sua mãe morara lá quando era criança. Na cidade, se hospedam na casa das irmãs Boatwright, onde todas têm nomes de meses do ano - August (Agosto), June (Junho) e May (Maio) -, são negras e ganham a vida como apicultoras. Lilly enfrenta o pessimismo natural de June Boatwright, que não acredita nas mentiras ditas por Lillly e o racismo de se relacionar com negros.



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Obra
A descoberta da beleza própria e a auto-aceitação são o assunto central deste livro.A história da amizade entre três meninas negras e pobres, que enfrentam as manifestações preconceituosas com relação ao seu cabelo crespo e vão, aos poucos, aprendendo a aceita-lo, a brincar com ele e amá-lo do jeito que é.Surgem novos penteados e com eles também novas formas de ver a si e ao outro, coragem e ousadia para fazer e ser diferente.
Sobre a autoraNeusa Baptista Pinto, 31 anos, é jornalista formada em Comunicação Social pela Universidade Federal de Mato Grosso. “Cabelo Ruim? A história de três meninas aprendendo a se aceitar” é sua primeira aventura literária publicada. O livro integra seu projeto “Pixaim: Nem bom, nem ruim – Apenas diferente”, cujo objetivo é estimular a valorização do cabelo crespo. Natural de Lençóis Paulista (SP), há 20 anos vive em Cuiabá, Mato Grosso.

Sobre a ilustradoraNara Silver, 21 anos, é formada em Moda pela UNIDERP (Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal), em Mato Grosso do Sul. Natural de Goiânia (GO), trabalha como estilista, designer gráfico e ilustradora. Também vive em Cuiabá, Mato Grosso.


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“Candaces”
Falar de Candace... É preciso olhar pra trás para ir pra frente. Porque atrás de nós tem um espelho e é nele que está nossa cara verdadeira. Nosso espelho é um espelho de Rainhas. Rainhas-Mães, Rainhas Guerreiras. Candaces. Somos herdeiros dessas Rainhas, temos a fala de nossos ancestrais”. (Trecho da peça Candaces – A Reconstrução do Fogo)

Mais do que uma linhagem de rainhas, Candace torna-se um conceito, através do qual a força da mulher negra se faz presente em lutas, conquistas e no legado matriarcal que venceu o tempo e as distâncias.


As Mães Feiticeiras 

Do grande continente africano trazemos não só a origem, mas também toda uma crença ancestral que exalta a figura feminina como a grande provedora que principiou a vida do Homem.

Um desses mitos conta que no início de tudo, ligadas às origens da Terra, havia as Mães Feiticeiras. Donas do destino da humanidade, elas eram o ventre do mundo. Conhecedoras dos segredos da vida, continham em si a capacidade de manipular os opostos e, assim, manter o equilíbrio do universo. Traziam consigo a força criadora e criativa do planeta. Raízes de um misticismo que abrigava em sua sabedoria a dualidade do cosmos, detinham o poder sobre a vida e a morte, o bem e o mal, o amor e a cólera, o princípio e o fim.

As Ascendentes Candaces 

Do mito à história, através do exemplo de duas grandes rainhas da Antigüidade, exaltamos o comando de mulheres negras sobre seus povos. Assim, evocamos a primeira ascendente Candace: Mekeda, ou Rainha de Sabá.

Reino das mil fragrâncias, confluência das culturas árabe e africana. Sabá era uma terra rica e mantinha uma sociedade matrilinear, em que o poder era passado aos descendentes pela via feminina. Ali viveu a exuberante Rainha Negra. Atraída pela fama de riqueza e sabedoria que envolvia Salomão, o rei dos judeus, Mekeda adentrou Jerusalém com uma comitiva de camelos, levando uma infinidade de aromas e grande quantidade de ouro e pedras preciosas. Desse encontro nasceu a reverência à mulher que cativou com beleza, inteligência e diplomacia um dos soberanos mais importantes de sua época.

Do Oriente, rumo ao império dos faraós, surge mais um exemplo do poder feminino negro. Nefertiti reinou no Egito por mais de uma década durante o apogeu de uma civilização que iria influenciar toda a humanidade. Reverenciada por sua beleza, governou ao lado de Amenófis IV (Akhenaton) com status equivalente ao dele. Juntos, implementaram reformas culturais e religiosas, dentre elas o culto ao Deus Sol Aton. Foi imortalizada em templos mais do que qualquer outra rainha egípcia.

Candaces 

Ao sul do Egito, banhado pelo Nilo, havia o Império Meroe. Era governado por uma dinastia de soberanas negras que exerciam o poder civil e militar. Imortalizadas pela história como Candaces, estas bravas guerreiras nasceram sob o signo da coragem para ocupar posição de poder e prestígio. Numa forma de conexão com as tradições matriarcais da África, reinavam sobre seu povo por direito próprio, e não da qualidade de esposas.

Viviam o apogeu de uma era de esplendor e fartura, abençoadas pelo grande rio e impulsionadas pelo comércio com o Oriente Médio. A localização do império permitia um intenso intercâmbio com outros povos – hebreus, assírios, persas, gregos e indianos. Em suas terras, ricas em ferro e metais preciosos, ergueram-se pirâmides e fortalezas.

Seus exércitos usavam armas de ferro e cavalaria, ferramentas e habilidades herdadas dos povos núbios, que lhes davam vantagem no campo de batalha. A idolatria daquela civilização pelos cavalos era tanta que estes animais eram enterrados junto com seus guerreiros, para serví-los por toda a eternidade. Esta imagem, misto de homem e cavalo, alcançou a Grécia, inspirando o surgimento da figura mitológica do Centauro. Na religião, cultuavam Apedemek, Deus da guerra e da vitória, representado por um homem com cabeça de leão.

A prosperidade de Meroe, que deu prosseguimento ao domínio Núbio na região, atraiu a ira dos senhores do mundo, o Império Romano. Aqui tem início o episódio que marcou a história das Candaces.

Líderes de um movimento de resistência contra o poderio bélico dos invasores, enfrentaram o forte exército, aliando técnicas de guerrilha e diplomacia. Uniram seu povo na luta contra o jugo romano movidas pela sede de justiça e liberdade.

Após a invasão de Petronius, a Rainha Candace esperou que as tropas do general adormecessem e os surpreendeu com um ataque. Este movimento abriu a possibilidade para uma negociação diplomática, comandada pela soberana negra. O resultado foi a retirada dos soldados romanos e a demarcação do território de Meroe, devolvendo a paz ao seu povo. Assim foi escrito o mais importante episódio que marcou a nobre dinastia de guerreiras naquele império africano.

Mas os exemplos de comando e resistência de bravas negras continuaram a florescer por outras eras e civilizações. Para além de seus próprios domínios, emergiu a saga das Candaces, Rainhas-Mães que se fizeram deusas, reinando na crença de suas descendentes espalhadas pela Terra, porta-vozes da sua luta por toda a história.

As Descendentes 

Várias luas se ergueram e se puseram no céu do continente negro. Um dia, rainhas e princesas de tribos e reinos se viram obrigadas ao trabalho forçado no novo mundo. Mas foi ali que fizeram multiplicar o sangue Candace. Em uma terra tão distante, ligadas ao passado, mulheres negras geraram o valor da bravura herdade de suas ancestrais.

A palavra liberdade ganhou um significado mítico no Brasil, dando um novo sentido à vida levada entre a clausura e o trabalho forçado. A bravura da dinastia Candace foi eternizada pela tradição oral africana, que tratou de espalhar aos quatro cantos os grandes feitos das suas soberanas, inspirando a luta de guerreiras que subverteram a força dos seus senhores e lutaram pela liberdade.

Para elas, ser livre era também reverenciar seus costumes, reviver o passado soberano, encenar a memória dos seus antepassados. Em folguedos, foram eternizadas na glória real da corte negra. No novo continente, há o despertar para o misticismo trazido do outro lado do Atlântico. A construção da identidade africana no Brasil encontra nas celebrações e ritos toda uma reverência à mulher como mediadora entre os deuses e a humanidade.

Na Bahia, as escravas ganhadeiras vendiam o excedente de produção em feiras e mercados como em sua terra natal. O lucro era poupado para comprar suas alforrias e a dos maridos, tornando-as mulheres com voz ativa.

No chão brasileiro, era revivida a tradição das feiras iorubanas, um espaço não só para trocas de mercadorias, mas também para trocas simbólicas. A mulher concentrava o poder de fechar negócios, disseminar notícias, modas, receitas, músicas, e, sobretudo, aconselhar.

Assim, tornaram-se as grandes mães negras, sacerdotisas que tiveram suprimido o poder real na África, mas que passaram a exercer o poder espiritual no novo mundo.

Os elos entre arte e religião se tornaram mais fortes. As mães de santo se transformavam em mães de samba. Tia Ciata, a mais conhecida, era respeitada por sua sabedoria religiosa. Celebrava os orixás em cerimônias em sua própria casa, que sucediam festas regadas a muita música, batuques e quitutes. Um misto de consagração da música e dos deuses afro-brasileiros.

Salve as Candaces do Candomblé, evocadas na saudação às entidades femininas.

Odoyá, Iemanjá!, rainha das águas do mar;
Saluba, Nanã!, deusa da Terra;
Eparrei, Iansã!, senhora dos raios;
Orayê-yê o, Oxum!, guardiã da beleza e do amor;
Oba-xi, Obá!, senhora das águas revoltas.

Celebração de religião e do puro prazer de dar ao corpo o gingado malemolente, fruto da persistência destas rainhas, sacerdotisas, baianas, pastoras, mães negras do carnaval.

A Imortalidade 

Mulher. Negra. Gênero e raça. São as Candaces dos nossos dias, herdeiras do laço afro e da missão de semear esperança na Terra. Provedoras da força que nos acompanha desde os primeiros passos. Detentoras do relicário da arte em prol do coletivo.

Majestade, soberana, guardiã da sagrada chama da vida, dona do carnaval. Derrama teu talento ao interpretar a história da raça; enfeitiça os sentidos com tua beleza negra, libertando corpo e alma. Eleva-te ao panteon das matriarcas ancestrais da África e invoca a Candace dentro de ti. Resgata a força feminina das guerreiras imortais, Rainhas-Mães de todos os tempos, para abençoar e iluminar teus filhos, emanando o Axé, poder vital da bondade e do afeto, energia que comanda o mundo.
Profª Diana Costa - http://dianacostaeduhistoria.blogspot.com/2011/07/rainhas-candaces.html







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Laudelina de Campos Melo (Líder feminista brasileira )

1904 - 1991
Líder feminista brasileira nascida em Poços de Caldas, Estado de Minas Gerais, incansável lutadora pelos direitos do negro e das empregadas doméstica no Brasil. Aos sete anos de idade, começou a trabalhar como empregada doméstica e passou por uma infância de exploração, discriminação e racismo, o que levou a desenvolver dentro de si a indignação com a desigualdade no país. Com 16 anos começou a atuar em organizações de mulheres negras e foi presidenta do Clube 13 de Maio, que promovia atividades recreativas e políticas. Foi para Santos aos 20 anos, onde se tornou ativista da Frente Negra Brasileira. Passou a atuar em movimentos populares e sua militância ganhou um peso político e reivindicatório, com sua ligação ao Partido Comunista Brasileiro. Criou uma Associação das Empregadas Domésticas (1936), fechada seis anos depois (1942), quando atividades políticas foram proibidas em função do Estado Novo. Mudou-se para Campinas, onde se integrou ao movimento negro da cidade e denunciou que as empregadas negras eram preteridas, protestando contra os anúncios racistas do jornal Correio Popular. Fundou a Associação Profissional Beneficente das Empregadas Domésticas (1961), para defesa dos direitos das empregadas domésticas e intermediação de conflitos entre patroas e empregadas, uma vez que não havia legislação trabalhista para a categoria. Sua atuação foi exemplo para que fossem criadas associações no Rio de Janeiro (1962) e em São Paulo (1963) e que deu origem ao Sindicato dos Trabalhadores Domésticos (1988). atuou nas universidades brasileiras por mais de 30 anos, até seu falecimento. Em seus últimos dias, foi eleita, por reconhecimento de sua competência, Chefe do Departamento de Sociologia, da Pontifícia Universidade Católica - PUC, Rio de Janeiro. Faleceu em Campinas como um símbolo da luta por tornar visível o trabalho doméstico, denunciar sua desvalorização e buscar conquistar direitos trabalhistas e dignidade, explicitando a situação de profunda pobreza, racismo e machismo na qual vivem milhares de mulheres negras em todo o país.
Fonte: NETSABER http://www.netsaber.com.br/biografias/ver_biografia_c_2340.html




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Sou Feia  mas Tô na Moda

O documentário "Sou feia mas tô na moda" da diretora Denise Garcia, que estreou em 2006



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Dar à Luz...Renascer
de Rodrigues, Livia


Este é um livro para grávidas como tantos outros. Mas talvez seja o único que poderia ser dirigido a qualquer outro público. É um livro que fala para o ser humano, ponto.
Não é o tipo de livro que fica falando sobre enxoval, lembrancinhas ou sobre qualquer outro tema exterior ao assunto principal do livro, que na verdade é o relacionamento entre seres humanos. Ele toca fundo em questões relevantes como os sentimentos do pai e da mãe no momento do parto e a alimentação da mãe. A autora como autoridade no assunto simplesmente por ser mãe, mas também como nutricionista, vai abordando de maneira poética vários estágios desse momento tão especial na vida de uma família. Ela mostra, na parte que talvez tenha me chamado mais a atenção, como a dor que ficou tão relacionada aos partos normais, pode ser vista sobre um outro ângulo, bem mais otimista.
O livro propõe idéias que só a experiência poderia propor. Diz coisas que uma avó ou uma mãe amorosa, mas também com experiência científica, poderiam nos falar.
Este livro é um material que deveria se lido e discutido em várias esferas da nossa sociedade, hoje tão voltada para questões bem menos importantes que as discutidas neste manual.

Fonte: http://pt.shvoong.com/medicine-and-health/gynecology/1799117-dar-%C3%A0-luz-renascer-gravidez/#ixzz1Y50mRqpO


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O livro é bastante denso e, apesar de sua linguagem acessível, traz muitos conceitos complexos, envolvendo arte e o que ela compreende, dança e seus aspecto artísticos e educativos, educação e seus pressupostos. Trata-se da publicação de uma tese de doutoramento, e por esta razão o livro possui momentos mais formais. Nesta tese, a autora Inaicyra Falcão dos Santos, a partir de um trabalho realizado junto às alunas do curso de graduação em Dança na Universidade Estadual de Campinas, faz uma análise do processo artístico e pedagógico em que estiveram envolvidas.
Primeiramente, o livro traz a trajetória profissional e conseqüente formação da autora como bailarina, coreógrafa e pesquisadora. Ela esteve em países da África e da Europa, vivenciou a dança e a música destes lugares, na Academia e fora dela. Sua bagagem cultural primeira é a tradição Yorubá tal como se configura no Brasil. Sua preocupação com a construção de uma identidade cultural do Negro no Brasil parece ter sempre existido, e o cuidado com o conteúdo e a forma também: “Anseio ser artista que exprime sua arte por meio de técnica e história de vida” (Santos).
Durante a construção de sua trajetória artística, a autora sentiu a necessidade de repensar sua prática pedagógica, que se iniciou na Nigéria, e continua até o presente ano de 2007 na Unicamp. Uma artista que pensa “o cotidiano no sagrado e o sagrado no cotidiano” (Santos), não poderia fazer diferente.
Após esta apresentação, o livro passa a contar-nos sobre a metodologia e as escolhas de conteúdo e forma, para o trabalho que foi objeto de seu estudo. Em seguida, em sua parte mais extensa (Batá: Ritual, vida e arte na tradição africana) apresenta mais descritivamente o trabalho artístico-pedagógico atrelado à criação cênica que lhe foi culminante.
Finalmente, nas últimas cinco partes, a autora fala do processo criativo em arte, da pesquisa em dança no ambiente universitário, da relação entre estas duas dimensões de conhecimento, e da síntese produtiva que acredita que cada um deve fazer a partir de suas vivências e pesquisas.
O que podemos ressaltar deste relato acredito que seja a forma como Santos consegue amalgamar os aspectos intelectuais, sentimentais, emocionais, míticos, estéticos, tradicionais e, portanto simbólicos da criação em dança, dentro de sua proposta educativa de “transcender a tradição, potencializando a criação cênica” (Santos).
A dimensão educativa, segundo a autora, envolve a aluna em uma retomada de sua história pessoal, raízes, auto-estima, e abertura para a alteridade. O desenvolvimento técnico e criativo permite que esta elaboração se torne uma expressão de qualidade, atendendo às exigências artísticas, e produzindo novos símbolos.
por, Ana Helena.

Sobre a autora:

Inaicyra Falcão dos Santos (Salvador, Bahia) é uma cantora lírica, professora doutora e pesquisadora das tradições africano-brasileiras, na educação e nas artes performáticas no Departamento de Artes Corporaisda Unicamp.[1] É filha de Mestre Didi e neta de Mãe Senhora, Iyalorixá do Candomblé.
Graduada em Dança pela Universidade Federal da Bahia, com mestrado em Artes Teatrais pela Universidade de Ibadan na Nigéria e doutora em Educação pela USP.
Frequentou cursos na área de dança moderna e jazz no Studio Alvin Ailey em Nova Iorque, no Laban Centre for Movement and Dance em Londres, e na Schola Cantorum em Paris.
Fez inúmeras viagens ao exterior. Ela torna-se dançarina e pesquisadora deste universo, realizando estudos e concluindo cursos de pós-graduação na Universidade de Ibadan, na Nigéria, e participando das experiências de vanguarda de recriação da linguagem da dança no contexto afro-brasileiro, especialmente nas montagens dos autos coreográficos do Grupo Arte e Espaço da SECNEB, como AJAKÁ, Iniciação para a Liberdade.
Posteriormente, já de volta definitivamente ao Brasil, exercendo a docência na Unicamp, descobre seu talento de cantora lírica, trabalhando na recriação da música sacra negra.


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CRIANÇAS E MULHERES, A NOSSA LUTA É A MESMA!

O movimento feminista e o movimento em defesa da infância e juventude e sua relação para o avanço das lutas pela emancipação humana.

Camila Gibin*

A sociedade atual se sustenta a partir das relações de exploração e de opressão contra a classe trabalhadora, se reestruturando a todo o momento para que mantenha uma lógica que indique como centralidade a valorização da propriedade privada em detrimento de qualquer outra questão. Para melhor garantir sua eficácia, o sistema capitalista conta com as relações de opressão a partir do gênero/sexo, da opção sexual, da raça/etnia e da faixa etária.

O “ser” branco, do sexo masculino, adulto e heterossexual é o perfil simbólico tido como o ideal de humanidade para o pensamento hegemônico, fortalecendo a ideia de sociedade patriarcal, argumento este justificativo às práticas violadoras contra aqueles que são ou que correm trajetos contrários a estes definidos.

Neste leque de setores da classe trabalhadora, de explorados e oprimidos pelo capital, temos as mulheres e o público infanto-juvenil, ambos submetidos aos opressores que, historicamente, os caracteriza como artigos/instrumentos do trabalho e do comércio/consumo. A relação que o capital constrói junto aos sujeitos é a relação de posse/propriedade entre si mesmos: o patrão para com os trabalhadores, esposas e filhos; e os trabalhadores também para com suas esposas e filhos, apesar de neste ultimo caso a complexidade da relação de posse se tornar maior por haver em jogo uma necessidade de subsistência, sendo as mulheres e os filhos entendidos como instrumentos de trabalho para que a renda familiar aumente, e então se consiga sobreviver com uma possibilidade a mais, ainda que não a ideal.

Essa desvalorização e não reconhecimento do publico feminino é marcado em tempos anteriores ao do desenvolvimento do capitalismo. No sistema escravista, as mulheres escravizadas eram aquelas vendidas a um custo mais baixo, sendo consideradas então de menor valor e significância, mesmo que desenvolvessem tarefas tão árduas quanto as realizadas pelos

homens, e até mesmo mais perigosas, como no caso das atribuições nos engenhos nas quais a divisão sexual do trabalho destinava às mulheres a tarefa de colocar as canas na moenda, considerado o trabalho mais perigoso. A infância e a juventude eram vistos com a mesma concepção, desvalorizados moralmente e com um custo de compra e venda inferiorizado, quando não era simplesmente descartados e assassinados (como no caso das embarcações negreiras que, para deixar os navios mais leves jogavam em alto mar as crianças), o que vinha a afirmar a desqualificação moral.

Com o desenvolvimento das forças produtivas temos as novas possibilidades de leitura da organização familiar, que convida, a priori, as mulheres para os espaços públicos de trabalho e em seguida as crianças, com o interesse no aumento da lucratividade das produções. Essa alteração entre “mundo privado” para “mundo publico”, frequentado pelas mulheres, contribuiu significativamente para alterações nas relações entre homens e mulheres, estimulando e potencializando o pensar crítico feminino que combata as relações de opressões. No entanto, apesar do avanço nas relações entre os sexos que a inserção no mundo do trabalho sugere não significa que as desigualdades tenham sido (ou sejam) superadas, visto que o próprio trabalho doméstico e a disseminação da ideia de submissão da mulher perante o homem mantiveram-se e é também utilizada em favor do capital ao explorar ainda mais a força de trabalho feminina com o pagamento de baixos salários quando comparado ao dos homens.

A Igreja teve papel ideológico central a perpetuação da idéia de submissão da mulher, alimentando que, mesmo que as trabalhadoras passassem a frequentar os espaços publicas eram elas ainda consideradas as responsáveis pelo cuidado dos filhos e do ambiente doméstico. A mãe-trabalhadora, então, não conquista os espaços de creches dentro de uma linha de pensamento que a enxerga com autonomia e com igualdade entre os sexos, e sim dentro de uma proposta de mantê-la no ambiente de trabalho para o aumento da produtiva e para que as senhoras abastardas e as religiosas, quem cuidavam das creches, pudessem controlar e cobrar das mães-trabalhadoras a sua responsabilidade diante os valores e a moral da família.

Juntamente com o publico feminino, o processo de desenvolvimento e de natureza da produção capitalista aponta a infância e juventude como potencialmente necessárias à mais-valia. A infância pobre passa então a adentrar as fábricas sendo exploradas e oprimidas de forma ainda mais drásticas do que as mulheres. No Brasil, a preocupação com a presença infantil nos ambientes de trabalho se deu no inicio do século XX, quando a questão é colocada em pauta pelos movimentos operários, sendo conquistada a regulamentação do mesmo, com um olhar mais cuidado a este segmento. Foi inserido também pelo Estado a necessidade de escolarização das crianças e dos adolescentes dentro de um plano político de educar para o trabalho, que na década de 30 já fazia parte de uma estratégia para firmar políticas nacionais e fortalecimento da ideologização de Estado-Nação.

Ao mesmo tempo em que se avança na conquista dos direitos a infância, avança-se, também, na conquista dos direitos das mulheres, pois a garantia a criança frequentar espaço educacional permite que suas responsáveis, sempre tidas como únicas na função domestica de cuidar do processo educativo dos filhos, vão trabalhar sem necessitarem se preocupar intensamente com os cuidados de seus filhos.

Neste aspecto também estão os casos por luta pelas creches, reivindicação a qual pertenceu a bandeira de luta dos movimentos feministas brasileiros na década de 80, sendo entendido nesse período que o direito da criança ao cuidado de programas específicos do estado era também um direito a família. Com a promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente, em 1990, temos regulamentado que o acesso a educação formal e informal é um direito assegurado as crianças e aos adolescentes, que vem a garantir um pleno desenvolvimento cognitivo/social da infância, bem como é apontado que o dever ao cuidado desta não é apenas da família, sendo então o estado e a sociedade responsáveis em desenvolver ações que contribuam com o processo de desenvolvimento da criança e do adolescente e permita que a família/ responsáveis (que culturalmente se dá pelo papel da mulher – principalmente nos novos arranjos familiares, nos quais o papel da mulher/mãe costuma-se ser central, sem a presença paterna.) organize-se e explore os espações públicos.

Atualmente o que temos é a inserção do publico feminino no mercado de trabalho precarizado (jornada de trabalho costuma ser de meio período, com redução salarial e sem registro em carteira), que de forma enganosa se apresenta às mulheres como uma boa alternativa para que consiga conciliar o trabalho doméstico e o cuidado dos filhos com o trabalho externo. Esta acaba por ser uma escolha (isso quando há possibilidade de escolha) das mulheres trabalhadoras que, mesmo sendo exploradas, optam para que tenham tempo livre para o cuidado dos filhos e da casa, visto a inexistência de politicas sociais suficientes e de qualidade que venham a atender as demandas especificas do cuidado as crianças e dos cuidados domésticos, como creches e lavanderia publicas. Então, apenas a família se responsabiliza pelo cuidado das crianças, a qual acaba por se forçar a realizar trabalhos precários para conseguir lidar com toda demanda cotidiana e ainda ajudar nas despesas de casa com o baixo salário recebido.

Ao violar os direitos das mulheres, o Estado viola, consequentemente, os direitos da infância, e vice versa. Isto porque, além de ambos setores serem igualmente inferiorizados e descaracterizados pelo capital, estão relacionados culturalmente e afetivamente entre si. Assim, o movimento inverso também, de conquista dos direitos das crianças acarreta na conquista e fortalecimento dos direitos das mulheres, sendo necessário resgatarmos a luta de defesa da infância nos movimentos feministas, pois para nenhum outro setor essa relação de avanço na luta dos direitos se deu historicamente e se dá de forma tão intensa e característica.

O transformar de uma nova cultura e de um novo olhar humanitário está diretamente relacionado a outra forma de sociabilidade, construída e exercida coletivamente, em que a classe trabalhadora - em especial as mulheres - é a única responsável e capaz de colocar em pauta este debate para indicar os caminhos necessários a superação das relações de opressão contra as mulheres e contra as crianças e os adolescentes.

 
 
 
 
 
 
*Militante do movimento em defesa da Infância e Juventude e integrante do Coletivo Feminista Anastácia Livre


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A Autobiografia de Miss Jane Pittman, 1974



A autobiografia de Miss Jane Pittman começa com uma nota do editor, que é um professor local, perto da fazenda onde Jane Pittman Vidas. Ele foi durante muito tempo tentando ouvir a sua história e, com início no verão de 1962, ela finalmente diz para ele. Findo sua memória, seus conhecidos ajudar a preencher os espaços. O conto gravado, com edição, torna-se então A Autobiografia de Miss Jane.







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As mulheres negras na construção de uma nova utopia – Angela Davis


1. A INVISIBILIDADE DA MULHER NEGRA



Em primeiro lugar gostaria de agradecer à Fundação Cultural Palmares pelo convite para participar desse maravilhoso encontro de mulheres negras, especialmente pelo prazer de poder homenagear Lélia Gonzales, fundadora do Grupo Nzinga – Coletivo de Mulheres Negras do Rio de Janeiro. Penso que ela foi uma das figuras mais importantes do movimento negro no Brasil. Sinto-me privilegiada de estar aqui e compartilhar com vocês as nossas lutas, principalmente na medida em que estamos caminhando para o próximo milênio.

Nesse encontro vocês estão discutindo o tema da invisibilidade forçada da mulher negra. Eu sei como isso ocorre. Ao mesmo tempo em que a mulher negra é considerada a mãe da cultura brasileira, ela é ao mesmo tempo invisível. E vocês sabem que nos Estados Unidos as mulheres negras têm lutado há décadas para acabar com essa invisibilidade. Vejam os exemplos das escritoras negras contemporâneas como Toni Morrison e Alice Walker.

Num certo sentido, já percorremos um longo caminho e em outro continuamos invisíveis. Eu faço parte de um comitê que indica pessoas para receberem o prêmio dado por uma entidade negra denominada Associação Nacional para o Avanço das Pessoas de Cor (National Association for the Advancement of Colored People/NAACP) e fiquei assustada por encontrar dentre os premiados um número tão pequeno de mulheres negras.

Mesmo quando a gente olha a situação da mulher negra em Hollywood observamos que ela desempenha um papel que lembra a "Mãe Preta". Os papéis desempenhados por Whoopi Godberg, por exemplo, quase sempre são de personagens que facilitam a relação entre pessoas brancas ou que iniciam crianças brancas na maturidade.


Um outro ponto que gostaria de abordar é o fato de que, quando as mulheres negras adquirem mais visibilidade, sempre se trata de mulheres de classe média. Gostaria de voltar ao século XIX, quando existiam clubes de mulheres negras que utilizavam o seguinte slogan: "Puxar para cima enquanto a gente avança". Isso para explicar a relação atual entre as mulheres negras de classe média e as pobres a partir de um novo projeto. Hoje, nos EUA, em função do crescente empobrecimento, as mulheres negras pobres são responsabilizadas pela sua própria miséria. As mães solteiras geralmente estão nos serviços da Previdência Social e são colocadas como as reprodutoras da pobreza e da marginalidade.

Gostaria também de compartilhar com vocês a idéia de um projeto que tem contado com a participação de várias mulheres negras. Ele reúne escritoras e cineastas que passaram a trabalhar juntamente com as mulheres mãe solteiras da Previdência Social. Essa união foi realizada porque acreditamos que algumas de nós ainda têm voz. Algumas de nós são mais visíveis, podem escrever e publicar, são jornalistas. E algumas de nós podem filmar documentários.

Então, as mulheres negras escritoras e cineastas se juntaram com as mães solteiras e essas passaram a contar sua história de vida, que é levada para a imprensa negra, para a revista black e a imprensa em geral. Daí porque nós, mulheres de classe média, decidimos que temos responsabilidade com as mulheres vítimas da pobreza e que vamos puxá-las para cima, ser solidárias ou, como se diz no Brasil, "dar uma força".

Um problema que temos enfrentado, atualmente é o seguinte: na medida em que os negros ascendem socialmente, eles têm deixado para trás sua própria comunidade. Não querem estabelecer nenhuma relação com as mulheres negras da Previdência Social, nem ser relacionados às pessoas negras que estão na prisão. Porém, alguns de nós estão dizendo: "eles são nossos irmãos, e se adquirimos um certo grau de visibilidade, foi em cima dos ombros daqueles que ficaram para trás".



2. O LEGADO DO BLUES E A INFLUÊNCIA NEGRA


Como essa conferência está especificamente proposta para tratar da imagem da mulher negra na sua relação cultural, a partir de agora falarei sobre uma pesquisa onde procuro resgatar a relação entre o cultural e o político (2). Acho importante que a gente olhe para a história de uma maneira não ortodoxa. Quando se chamam hoje os nomes das nossas ancestrais feministas, percebemos que elas foram educadas, escolarizadas. Eram mulheres que podiam escrever. Elas organizaram vários clubes de mulheres no passado.

Mas o que aconteceu com as mulheres que não escreviam? O que aconteceu com a mulher pobre da classe trabalhadora? Existe alguma forma de recuperar a contribuição dessa mulher para o feminismo negro? Por isso, passei a olhar e analisar o blues, observei as mulheres cantoras de blues e me dei conta de que elas encontraram maneiras de conversar sobre o feminismo, falando, por exemplo, de sexualidade. Às mulheres de classe média não era permitido falar sobre sexualidade em público. Isso era um tabu. No contexto do blues, contudo, podia-se explorar qualquer tema relacionado à sexualidade.

 
Parece-me que essa questão da sexualidade está ligada à luta do povo negro por liberdade. Por que eu digo isso? Porque, se a gente reparar nas condições do povo negro imediatamente após a abolição nos EUA (em 1865), percebemos que ele não tinha liberdade econômica. Havia a demanda por "40 acres de terras e uma mula", mas poucos conseguiram receber os 40 acres de terra. A maioria dos negros não tinha liberdade econômica nem política. Então, no período imediatamente posterior à escravidão, havia três formas através das quais os negros conseguiam ser livres: o direito de ir e vir e deixar as plantações, o direito à educação, pelo qual muitos deram suas próprias vidas, e o direito de escolher seus parceiros sexuais. Essa liberdade em relação à sexualidade incorpora muitas outras aspirações por liberdades. Já que não se tinha liberdade política nem econômica, havia um certo grau de liberdade nas suas vidas sexuais. Quando a gente pega o slogan feminista "o pessoal é político" e o analisa à luz da história do povo negro como escravo, percebemos que o slogan adquire um significado totalmente diferente.

O blues foi a primeira forma artística que emergiu após a abolição. E as mulheres negras dos anos 20 emergem como cantoras de blues, como trabalhadoras, como profissionais, e assim foram gravando músicas. A questão da pesquisa histórica tem muita importância para a nossa luta contemporânea. E nós, acadêmicas e intelectuais, precisamos resgatar essa luta contemporânea por justiça. O grande desafio contemporâneo nos EUA é fazer a ligação entre o público e o privado, entre o pessoal e o político, de maneira a estabelecer a relação entre a violência doméstica e a pública.

Durante muitos anos nosso lema foi a unidade negra ou, talvez, o que se chama de solidariedade racial entre homens e mulheres negras. Freqüentemente, no entanto, o silêncio das mulheres negras diante da violência doméstica tem prejudicado muito suas próprias vidas. A unidade negra da maneira como tem sido formulada protege um companheiro do movimento negro que bate na mulher de responder publicamente por sua atitude, sempre argumentando que "roupa suja se lava em casa". Nós sabemos que a violência de um parceiro sobre a mulher é tão ruim quanto a violência policial.

As mulheres cantoras de blues dos anos 20 sabiam como falar desses problemas que acontecem nos relacionamento, e o faziam abertamente. Mesmo considerando que elas não tinham o vocabulário de que dispomos hoje para tratar do aspecto político da violência doméstica, elas nunca esconderam isso, nunca fingiram que isso não acontecia. E muitas dessas mulheres que cantavam compartilhavam com outras mulheres o fato de que, dentro de uma situação de violência, o que elas deviam fazer é cair fora.

É preciso aprender a estabelecer a relação entre gênero, raça, classe e sexualidade. Nós temos que lutar por saúde física, mental, emocional e espiritual. Sabemos que as mulheres negras norte-americanas têm muito que aprender com as irmãs brasileiras sobre a saúde espiritual. E aprender a reverenciar nossas ancestrais, permitir que elas nos alimentem para que possamos continuar nossa luta. Nós temos que evocar espíritos como o de Aqualtume, o de Beatriz Nascimento e o nome de Lélia Gonzales. Para concluir esta parte, vou declamar um poema muito utilizado para inspirar

as mulheres negras lá nos EUA:



Eu me levanto.
Você pode escrever a minha história com o seu amargor e mentiras.
Você pode me atirar na lama.
Mas, ainda assim, como poeira, eu me levanto.
Você acha que a minha sensualidade incomoda?
Por que você está tão cheio de rancor, tão entristecido e desanimado?
Porque eu vou caminhar como se eu tivesse poços de petróleo na minha sala de estar.
Como a lua e o sol, com a certeza das marés e com esperança.
Pulando bem alto, ainda assim eu me levanto.
Você quer me ver quebrada e com a cabeça e os olhos baixos,
Com os ombros caídos,
Com as lágrimas e enfraquecida pelo meu choro.
A minha dureza ofende você?
Não fique tomando isso como se fosse uma coisa ruim.
Porque eu sorrio como se tivesse minas de ouro em meu quintal.
Você pode me atirar as suas palavras.
Você pode me cortar com seu olhar.
Você pode me matar com o seu ódio.
Mas, ainda assim, como o ar, eu me levanto.
Minha sensualidade incomoda você?
Isso vem como surpresa.
Eu danço como se tivesse diamante no ponto de encontro das minhas coxas.
Fora da vergonha da história eu me levanto bem alto.
Encontro o passado que está enraizado na dor.
Eu me levanto. Eu sou um oceano negro
Indo bem alto e longo, inchando, eu seguro as marés.
E, deixando de lado as noites de terror e de medo,
Eu me levanto ao nascer da manhã que é maravilhosamente clara,
Eu me levanto trazendo os presentes que meus ancestrais me deram,
Eu sou o sonho e a esperança do escravo,
Eu me levanto...



3. A LUTA CONJUNTA POR LIBERDADE



A NAACP foi fundada no início do século XX nos EUA para defender os direitos dos negros. Com algumas de suas alas bem conservadoras e outras mais progressistas, não se pode caracterizar a organização como um todo. Recentemente, pela primeira vez na história, uma mulher foi eleita presidenta dessa entidade, e eu penso que isso é importante. Na comunidade negra norte-americana existe um desejo muito forte de fazer parte da luta. A identidade da comunidade negra foi muito construída em cima de marchas e ações do movimento negro. A partir dos anos 90, porém, não temos mais um movimento negro unificado em torno de uma luta.

A célebre Marcha de Um Milhão de Homens atraiu muitas pessoas com aquele desejo de participar da luta, mas o que sabemos agora é que o movimento dos anos 60 foi masculinista. Assim como eles conquistaram muitas coisas, tornaram a mulher invisível, representaram a liberdade do negro como a liberdade do macho. Partiam do pressuposto de que, uma vez os homens se reunindo para resolver seus problemas, praticamente todos os problemas da comunidade negra estariam resolvidos. E isso não é verdade. Por outro lado, não havia uma análise política sobre quais eram os problemas dos homens. Os organizadores da Marcha chamaram os homens para ir até Washington (EUA) com o apelo sobre o exame de consciência de cada um e basicamente propunham afirmá-los como chefes de família. Enquanto isso, as mulheres foram solicitadas para ficar em casa e cuidar das crianças.

Mas elas não aceitaram esse tipo de proposta. O grande desafio, portanto, é fazer a conexão entre o privado e o público, entre o pessoal e o político, e aceitar a mulher negra como uma parceira igual nessa luta por liberdade. Temos um caminho longo a seguir...



4. O PAPEL DO ARTISTA E A LUTA POLÍTICA (3)



Historicamente, nos EUA, tem-se a idéia de que os artistas existem para promover o entretenimento das pessoas. Dessa maneira, perde-se de vista o profundo papel dos artistas, que é colocar uma nova consciência, uma vez que eles têm recursos visuais e performáticos, usam o corpo como forma de expressão artística, enfim, possuem modos de dizer as coisas que o discurso político não dá conta. Quando se fala de uma pessoa que ficou famosa na Europa, por exemplo, isso é importante caso ela seja uma porta-voz da luta contra o racismo.

Essa atitude para o artista brasileiro é importante porque o Brasil encontra lá fora a idéia do mito da democracia racial. A tradição oral é muito central na nossa cultura. Mas isso também tem seus próprios problemas e contradições, a exemplo da mercantilização da cultura oral, como acontece com a black music nos EUA de hoje. Se isso torna a música disponível no mundo todo, cria, no entanto, uma certa hegemonia da cultura afro-americana, tornando mais difícil reconhecer a cultura original de cada país da diáspora, especialmente quando se observa o tipo de mensagem que vem através das músicas, principalmente na faixa jovem.



5. A POLÍTICA DA ESQUERDA E A QUESTÃO RACIAL



As organizações de esquerda têm argumentado dentro de uma visão marxista e ortodoxa que a classe é a coisa mais importante. Claro que classe é importante. É preciso compreender que classe informa a raça. Mas raça, também, informa a classe. E gênero informa a classe. Raça é a maneira como a classe é vivida. Da mesma forma que gênero é a maneira como a raça é vivida. A gente precisa refletir bastante para perceber as intersecções entre raça, classe e gênero, de forma a perceber que entre essas categorias existem relações que são mutuas e outras que são cruzadas. Ninguém pode assumir a primazia de uma categoria sobre as outras.



6. COMO AS FEMINISTAS NEGRAS SE RELACIONAM COM AS MULHERES EM GERAL E COM AS MULHERES NEGRAS EM PARTICULAR



O movimento feminista é tão diverso que eu não sei se a gente pode falar de um só feminismo. Nós temos feministas por toda a parte. Temos feministas no Partido Republicano que são bastante conservadoras politicamente. E mesmo dentre as feministas negras é preciso reconhecer a grande diversidade existente. Algumas mulheres negras se referem a si próprias como mulheristas, usando o termo de Alice Walker. Outras são feministas e fazem um trabalho mais prático, por exemplo, contra a violência sexual. Há também feministas negras que são acadêmicas, como Patrícia Hill Collins, que escreveu um livro sobre o pensamento feminista negro. Dentre todos estes tipos, é evidente que elas não concordam necessariamente umas com as outras, já que muitas são as diferenças.

O desafio consiste em saber como trabalhar com as diferenças e contradições. A diferença pode ser uma porta criativa. Nós não precisamos de homogeneidade nem de mesmice. Não precisamos forçar todas as pessoas a concordar com uma determinada forma de pensar. Isso significa que precisamos aprender a respeitar as diferenças de cada pensar, usando todas as diferenças como uma "fagulha criativa", o que nos auxiliaria a criar pontes de comunicação com pessoas de outros campos. Por exemplo, quando se fala, na Grã Bretanha, de mulheres negras, está se falando de mulheres asiáticas, caribenhas etc.



7. A MULHER NEGRA E A QUESTÃO DA SAÚDE



Eu sou membro do projeto nacional de saúde da mulher negra. Tal projeto não se refere apenas à saúde física, mas também diz respeito à saúde mental, emocional e espiritual, procurando ver a saúde de uma maneira holística. O Instituto Geledés conhece esse projeto porque já participou de várias conferências sobre o assunto (4).

Assim, ao mesmo tempo em que lutamos por um sistema de saúde pública, buscamos criar conceitos para discutir as questões específicas da saúde da mulher negra, que são mais afetadas por diabetes e hipertensão e morrem mais de câncer cervical e de mama que as mulheres brancas.

Há também a questão da auto-estima que estamos abordando nesta conferência. E, de certa forma, mesmo algumas de nós que conseguiram chegar a determinado ponto ainda nos sentimos muito mal com a gente mesmo, nos sentimos inferiores. E as mulheres que se sentem assim terão muita dificuldade para ajudar as mais empobrecidas, sobre cujos ombros elas se apoiaram para poder ascender. Nesse projeto nós temos grupos de mulheres que conversam muito sobre os problemas que as estão incomodando.



8. A GERAÇÃO DE ATIVISTAS DO MOVIMENTO DOS DIREITOS CIVIS



A noção dos direitos civis se tornou importante em termos da definição da luta nos anos 60. Como se pode avaliar politicamente tal situação? A história nos dá capacidade de avaliar o passado a partir do presente. E quando a gente olha para a história, quer sempre enfatizar o que foi mais positivo e nos esquecemos de ver as contradições. Porém, se olhássemos para as contradições ou os problemas, isso nos ajudaria a ir para frente, a avançarmos.

O movimento dos Direitos Civis foi muito importante, mas teve um problema em relação ao papel da mulher na luta que não foi reconhecido. As mulheres organizaram o movimento, organizaram o boicote de Montgomery (Alabama) no ano de 1955. E o que todo mundo sabe é o nome do jovem pastor que as mulheres pediram para que agisse como porta-voz do movimento dos Direitos Civis, um homem chamado Martin Luther King Jr.

Ninguém sabe o nome das mulheres que fizeram o trabalho organizativo. Na medida em que a gente reverenciar o Dr. King, deve ao mesmo tempo criticar o movimento por seu fracasso em reconhecer o papel central que as mulheres desempenharam. Veja um exemplo na imagem de Rosa Lee Parks. Ela é representada como uma mulher que se recusou a dar lugar a um branco no ônibus porque estava cansada. O que geralmente se fala é que ela era uma empregada doméstica que voltava do trabalho e, por conta do seu cansaço, desobedeceu a lei municipal racista do sul dos EUA. E assim originou o movimento em 1955. Como se ela não soubesse o que estava fazendo.

Mas a verdade é que ela era uma pessoa politicamente consciente, era organizada e sabia exatamente o que estava fazendo. Antes dela, duas outras mulheres já haviam sido presas na mesma circunstância, só que esses dois casos anteriores não tiveram sucesso devido a certas condições legais. Rosa Parks foi a terceira tentativa e com sucesso. Isso explica o masculinismo do movimento dos Direitos Civis que a gente deve avaliar e criticar.

Também devemos reconhecer que após trinta anos o discurso dos Direitos Civis não tem o mesmo poder. O mesmo discurso utilizado por Luther King para clamar por justiça para todos é hoje usado por conservadores para propor o desmantelamento das ações afirmativas. As recentes iniciativas ocorridas na Califórnia – e que são chamadas de "Iniciativa Californiana pelos Direitos Civis" – visam derrubar conquistas da ação afirmativa sob a alegação de que elas conteriam propostas que discriminam os homens brancos a favor de negros, mulheres e pessoas de cor em geral.

Assim, o mesmo tipo de linguagem utilizada pelo movimento dos Direitos Civis está sendo usado atualmente por conservadores para proteger os privilégios dos homens brancos. Todas as conquistas que obtivemos nos convidam a repensar e reconsiderar as possíveis vitórias futuras. Nada está escrito na pedra. O que é progressivo em determinado contexto pode ser extremamente retrógrado em outro momento da história.



9. A CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA UTOPIA


Nos EUA, alguns de nós da esquerda nos baseamos no tipo de discussão que se fazia no Partido Comunista para ajudar a compreender os nossos projetos. Hoje não sou mais membro do Partido Comunista. Alguns de nós estavam lutando para democratizar internamente o Partido. Éramos da direção e assumimos a luta pela democratização, mas não éramos autorizados a concorrer a cargos eletivos. Não conseguimos e perdemos essa luta. Daí porque alguns comunistas e outros socialistas construímos uma nova articulação, uma rede que se chama "Comitê de Correspondência" da era revolucionária nos EUA.


Ainda acredito no socialismo, mesmo considerando que os países socialistas já não existem mais como antes. É preciso ver que o capitalismo ainda está muito desenvolvido. Na verdade, o capitalismo globalizado se insinua na vida das pessoas de uma forma que nunca tinha acontecido antes. Basta ver a economia internacional em termos do turismo sexual e a maneira como as mulheres trabalhadoras são exploradas dentro das Américas. Agora as corporações internacionais usam a população negra como o seu porta-voz. Veja o exemplo de Michael Jordan e da Nike, uma empresa que explora os trabalhadores negros dos EUA, da Indonésia e do Vietnã. Nos EUA, nós estamos fazendo uma campanha para boicotar a Nike. Lá temos uma camiseta com o slogan "Não faça isso".
Eu realmente penso que utopia é quando agente se move em novas direções e visões. Utopia no sentido de que necessitamos de visões para nos inspirar e ir para frente. Isso tem que ser global. Precisamos achar um modo de dar conta e saber como vamos interligar nossas lutas e visões e chegar a algumas conclusões sobre como desenvolver novos valores revolucionários e, principalmente, como desatrelar valores capitalistas de valores democráticos.

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* Angela Yvonne Davis nasceu em 1944 em Birmingham (Alabama). Militante das questões raciais e de classe, foi presa em 1970, acusada de participar de ações armadas promovidas pelos Panteras Negras. Julgada inocente em 1972, depois de quase dois anos de prisão, atualmente é professora do Programa de História da Consciência da Universidade da Califórnia, em Santa Cruz, onde busca articular, numa nova perspectiva, as categorias de classe, raça e sexo, visando a libertação social dos oprimidos.

(1) Conferência realizada no dia 13 de dezembro de 1997, em São Luís (MA), na Iª Jornada Cultural Lélia Gonzales, promovida pelo Centro de Cultura Negra do Maranhão e pelo Grupo de Mulheres Negras Mãe Andreza.

(2) A pesquisa se transformou num dos livros de Angela Davis, Blues legacies and black feminism: Gertrude "Ma" Rainey, Bessie Smith and Billie Holliday (Nota da Redação).

(3) Tanto esta como as seções seguintes resultaram de perguntas formuladas à autora no debate realizado após a exposição.

(4) Sediado em São Paulo (SP), o Geledés – Instituto da Mulher Negra tem como objetivo central combater as diversas formas de discriminação racial. Para maiores informações, ver www.geledes.com.br (Nota da Redação).

Fonte: http://www.geledes.org.br/atlantico-negro/movimentos-lideres-pensadores/afroamericanos/angela-davis/10243-as-mulheres-negras-na-construcao-de-uma-nova-utopia-angela-davis


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                  Flor do Deserto




Flor do deserto”, relato cru e impactante da vida da ex-modelo somali Waris Dirie, é um filme que, mesmo abrindo mão de uma qualidade técnica superior, consegue emocionar o público como poucas produções vistas atualmente. A história da garota filha de pais nômades, circuncidada aos 3 anos, que fugiu de casa aos 13, após ser vendida para casamento com um comerciante sexagenário, é forte o suficiente para tornar meramente acessória qualquer outra exigência prática.
Aqui, a linearidade narrativa (cujo roteiro foi inspirado na autobiografia homônima de Waris) e o trabalho arrasador da atriz Liya Kebede, são pontos-chave e principais argumentos para uma sugestão: assista-o. Se optar por fazê-lo, prepare-se para duas horas de representação chocante de uma realidade que não parece tão ferina até ser vista ao vivo ou, ao menos, em uma  tela de cinema.

A autobiografia de Waris (equivalente em somali para ‘flor do deserto’) tornou-se, ainda em seu ano de lançamento, 1998, best-seller mundial. Desde então, com sua luta massiva e ininterrupta pela proibição da circuncisão no mundo, a ex-nômade foi nomeada Embaixadora Itinerante da ONU contra a Mutilação Feminina, figura central de um documentário da BBC sobre o tema e, agora, personagem principal de um longa-metragem.
Não é difícil entender porque a história de Waris desperta tanto fascínio em quem tem a oportunidade de ler seus livros ou assistir ao filme baseado em sua história. Tais materiais traçam um relato exato da conturbada fuga de uma garota que, de tão magra, nem parecia ter forças para se sustentar, e mesmo assim se lançou na travessia de um deserto da região até a capital Mogadíscio, de onde segue de avião até Londres.
O mote dos livros, do filme e do engajado discurso de Waris não é, porém, sua trajetória pessoal. Todos os aparentes produtos da história de vida da somali são apenas o pano de fundo de um esforço – dela, em seus livros e depoimentos, e da direção, no filme – para que a realidade de garotas circuncidadas, em um país cuja independência política só foi conseguida no início dos anos 60, e que ainda carrega índices de desenvolvimento social entre os mais baixos do mundo (expectativa de vida: 48,2 anos; mortalidade infantil: 116,3/mil nascimentos), seja conhecida.

Como a própria personagem faz questão de destacar em um dos melhores diálogos do longa, a exploração da imagem de uma ex-nômade transformada em famosa modelo cansou. O que importa, para ela, é a divulgação de um traço cultural que continua causando irreversíveis danos físicos e psicológicos às mulheres somalis.
Escolhida para dar vida à Waris, a atriz e também modelo Liya Kebede consegue conferir um realismo impressionante à personagem. Sua origem etíope e sua ascensão ao posto de uma das modelos mais bem pagas do mundo, tendo estrelado campanhas da Yves Saint-Laurent, Victoria’s Secret, Dolce & Gabanna, Louis Vuitton, Carolina Herrera, entre outras, podem ter garantido uma identificação quase instantânea entre atriz e personagem. O resultado é assustador. Além disso, e ainda deixando de lado a semelhança física entre as duas mulheres, a atuação de Kebede impressiona justamente por ser dotada daquilo que poucas atrizes conseguem dispor com verdadeira eficácia: uma notável carga dramática em uma atuação sem grandes rasgos e picos emocionais.

Não parece justo citar os defeitos técnicos de um filme cujo apelo social grita mais alto que qualquer outro fator, mas deixá-los de lado seria igualmente irresponsável. Se “Flor do Deserto” acertou no principal, alguns desvios e derrapadas também estão presentes. Determinados recursos de edição são exagerados, assim como algumas sequências do roteiro, o que se torna desnecessário devido ao apurado senso dramático da narrativa. Ao mesmo tempo, a originalidade de alguns ângulos, de alguns planos do deserto africano e de enquadramentos curiosos, também são marcas do filme. Preste atenção na sequência de imagens que precede a aparição dos créditos finais.

Sob todos os aspectos, positivos e negativos, o saldo final de “Flor do Deserto” é  interessante. Não é um filme indicado para quem prefere analisar o conjunto da técnica. Também não é um filme sobre uma ex-nômade que conseguiu vencer na vida e tornou-se uma modelo bem sucedida. Aqui, antes de tudo, os costumes de um povo são colocados em confronto direto com os danos que podem causar. E se a circuncisão  pode ser considerada como mais um traço da crueldade humana, Waris Dirie é a prova de que perder as esperanças na humanidade não é a melhor saída.

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HISTÓRIA: Como foi criada a Lei Maria da Penha?      


Qui, 04 de Agosto de 2011 11:22 Administradora .Em 2002, as Organizações Não-Governamentais Feministas Advocacy, Agende, Themis, Cladem/Ipê, Cepia e Cfemea, reuniram-se sob a forma de consórcio para elaborar um anteprojeto de lei para combater à violência doméstica e familiar contra a mulher.
Em março de 2004, tal anteprojeto foi apresentado à Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República – SPM, que instituiu Grupo de Trabalho Interministerial para elaborar um Projeto de Lei versando sobre mecanismos de combate e prevenção à violência doméstica contra as mulheres (Decreto 5.030, de 31 de março de 2004).
Após consultar representantes da sociedade civil, operadores do direito e servidores da segurança pública e demais representantes de entidades envolvidas na temática, por meio de debates e seminários, o Poder Executivo encaminhou ao Congresso Nacional o Projeto de Lei sob o nº 4.559/2004. Na Câmara dos Deputados o projeto original foi alterado por meio de resultado de amplo debate, através de audiências públicas realizadas em todo o país.
O substitutivo foi aprovado nas duas casas legislativas e culminou na Lei 11.340, sancionada pelo Presidente da República e publicada em 7 de agosto de 2006, denominada Lei “Maria da Penha”.
A Lei Maria da Penha incorporou o avanço legislativo internacional e se transformou no principal instrumento legal de enfrentamento à violência doméstica contra a mulher no Brasil, tornando efetivo o dispositivo constitucional que impõe ao Estado assegurar a "assistência à família, na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência, no âmbito de suas relações” (art. 226, § 8º, da Constituição Federal).


fonte: Secretaria de Políticas para as Mulheres - SPM


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A tribo Himba, é uma das mais fascinantes de África. É um perfeito matriarcado. Aí quem mandam são as mulheres. Elas são as donas dos filhos, das casas, do gado e de todos os apetrechos que existem nas aldeias.
Para manter a tradição, elas jamais tomam banho. Mas passam três horas nos rituais de beleza. Usam mistura de banha animal e ocre como loção hidratante e protetor solar. Passam o produto inclusive nos cabelos.
Vivem na Namíbia e em parte do Deserto do Namibe em Angola. São criadores de gado excepcionais. Sabem tanto de gado como os Massai do Kenia ou os Dinkas do Sudão.
A primeira impressão é a de que por ali o tempo parou. Mulheres nuas e suas longas tranças, corpos pintados com uma tinta naturalmente vermelha e muitos adornos. Elas amamentam bebês, riscam gravetos para fazer fogo e cozinham em panelas de ferro. Este povo manteve as tradições centenárias quase intactas, ainda que os que habitam a Namíbia tivessem sofrido a influência dos missionários e da voragem do progresso. Uma dessas tradições é o hábito das mulheres de cobrirem o corpo com um óleo avermelhado, mistura de banha de boi com uma pedra local, espécie de argila, que protege a pele do vento e do sol, bem como o dos penteados sumamente elaborados, enfeitados com peças de couro de metal, também eles untados com a mesma mistura, fazendo-as despender todos os dias várias horas a cuidar da sua beleza. São elas quem mais impressiona, pelo porte altivo. Começam o dia a fumar nuns cachimbos curiosos. Peritas na arte do “coquetismo”, elas são a alma da tribo, porque mantêm a economia das suas casas e criam os filhos à sua maneira, com um carinho desvelado. São belezas africanas que muito teriam a ensinar aos entendidos, no campo da cosmética, quanto aos segredos de como possuir uma pele lisa, aveludada, e sem defeitos.

Texto: cabinda.com.br


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GÊNERO E EXCLUSÃO SOCIAL                            

Izaura Rufino Fischer
pesquisadora da Fundação J. Nabuco


Fernanda Marques
professora da Univers. Estadual de Mossoró/RN



Introdução

A relação de gênero formada por homens e mulheres é norteada pelas diferenças biológicas, geralmente transformadas em desigualdades que tornam o ser mulher vulnerável à exclusão social. A exclusão que atinge a mulher se dá, às vezes, simultaneamente, pelas vias do trabalho, da classe, da cultura, da etnia, da idade, da raça, e, assim sendo, torna-se difícil atribuí-la a um aspecto específico desse fenômeno, em vista de ela combina vários dos elementos da exclusão social. Desse modo, mais que qualquer outro assunto ligado ao feminino que se deseja analisar, dificilmente se poderá compreender a exclusão particular da mulher sem antes conhecer o fenômeno da exclusão e suas formas de manifestação. Diante de tal premissa serão expostas algumas informações sobre a exclusão social, que em seguida será relacionada com a questão do feminino.

A exclusão social

O termo exclusão social, de origem francesa, toma vulto a partir do livro Les Exclus (1974), de autoria de Lenoir, que define os excluídos como aqueles indivíduos concebidos como resíduos dos trinta anos gloriosos de desenvolvimento. Seguindo as idéias de Lenoir, o estudioso brasileiro Hélio Jaguaribe, em meados de 80, prevê, a partir da pobreza crescente, a exclusão de contingentes humanos e a define como resultado da crise econômica que se inicia em 1981-83. Para este autor, a exclusão assume as feições da pobreza. O escritor e político brasileiro Cristovam Buarque (in Nascimento, 1996), seguindo a mesma perspectiva de compreensão, ao analisar a crise econômica, publica escritos (1991, 1993 e 1994) que chamam a atenção para a ameaça à paz social. Segundo Buarque, a exclusão social passa a ser vista como um processo presente, visível e que ameaça confinar grande parte da população num apartheid informal, expressão que dá lugar ao termo “apartação social”. Para ele, fica evidente a divisão entre o pobre e rico, em que o pobre é miserável e ousado enquanto o outro se caracteriza como rico, minoritário e temeroso.
A exclusão social remonta à antigüidade grega, onde escravos, mulheres e estrangeiros eram excluídos, mas o fenômeno era tido como natural. Somente a partir da crise econômica mundial que ocorre na idade contemporânea e que dá evidência à pobreza é que a exclusão social toma visibilidade e substância. A partir de 1980, os seus efeitos despontam, gerando desemprego prolongado e, parafraseando Castel (1998), os desafiliados do mercado passam a ser denominados de socialmente excluídos. A partir de então, este tema ganha centralidade nos meios acadêmicos e políticos.
A discussão sobre exclusão social, de acordo com Gary Rogers (In Dupas, 1999), apareceu na Europa com o crescimento da pobreza urbana, e sua orientação varia de acordo com as conjunturas políticas e econômicas das sociedades. Silver (in Dupas, 1999), tentando entender a problemática da integração social na Europa e nos Estados Unidos, seleciona três paradigmas, ligando cada um deles a uma filosofia política. Assim, o paradigma da “solidariedade” estaria associado ao republicanismo, sendo a exclusão vista como quebra de vínculo entre o indivíduo e a sociedade. Nesse paradigma cabe ao Estado a obrigação de ajudar na inclusão dos indivíduos. No da “especialização”, associado ao liberalismo, a exclusão se refere à discriminação. Nesse caso, o Estado deve garantir o trânsito do excluído nas categorias sociais. No paradigma do “monopólio”, ligado a social-democracia a exclusão seria explicada pela formação de monopólios de grupos sociais.
De acordo com Rogers (In Dupas, 1999), a exclusão, em sua essência, é multidimensional, manifesta-se de várias maneiras e atinge as sociedades de formas diferentes, sendo os países pobres afetados com maior profundidade. Os principais aspectos em que a exclusão se apresenta dizem respeito à falta de acesso ao emprego, a bens e serviços, e também à falta de segurança, justiça e cidadania. Assim, observa-se que a exclusão se manifesta no mercado de trabalho (desemprego de longa duração), no acesso à moradia e aos serviços comunitários, a bens e serviços públicos, à terra, aos direitos etc. Silver, ao enumerar várias categorias de excluídos, reúne os velhos desprotegidos da legislação, os sem-terra, os analfabetos e as mulheres que, a nosso ver, apesar de excluídas como indivíduos, no espaço privado, devem levar apoio aos demais excluídos no âmbito da sociedade.
A exclusão social da mulher é secular e diferenciada. A compreensão sobre a condição bipolarizada do sexo possibilita indicações dos nortes da exclusão social fundamentada na diferença. É sabido que o fenômeno da exclusão não é específico da mulher, mas atinge os diferentes segmentos da sociedade. É também notório que a exclusão não é provocada unicamente pelo setor econômico, embora se admita que este é um dos principais pilares de sustentação desse fenômeno. A exclusão é gerada nos meandros do econômico, do político e do social, tendo desdobramentos específicos nos campos da cultura, da educação, do trabalho, das políticas sociais, da etnia, da identidade e de vários outros setores.


A reprodução da exclusão social feminina

As relações entre homens e mulheres, ao longo dos séculos, mantêm caráter excludente. São assimiladas de forma bipolarizada, sendo designada à mulher a condição de inferior, que tem sido reproduzida pela maioria dos formadores de opinião e dos que ocupam as esferas de poder na sociedade. Assim, segundo Alambert (1983), Platão, em A República, V livro, desenhava a mulher como reincarnação dos homens covardes e injustos. Aristóteles, em A História Animalium, afirmava que a mulher é fêmea em virtude de certas características: é mais vulnerável à piedade, chora com mais facilidade, é mais afeita à inveja, à lamúria, à injúria, tem menos pudor e menos ambição, é menos digna de confiança, é mais encabulada. Os ideólogos burgueses destacaram sua inclinação natural para o lar e a educação das crianças. Nesse sentido, Rousseau vê a mulher como destinada ao casamento e à maternidade. Kant a considera pouco dotada intelectualmente, caprichosa indiscreta e moralmente fraca. Sua única força é o encanto. Sua virtude é aparente e convencional.
Esses são alguns dos atributos imputados à mulher, que reforçam a base da exclusão do feminino na sociedade e cuja reverssão tem tomado longo tempo das feministas na sua busca por construir conceitos de eqüidade entre os dois sexos, e tentando, dessa forma, tirar a mulher do ambiente propenso à exclusão. Essa iniciativa faz parte de uma guerra no campo das idéias que avança de forma heterogênea nas conjunturas sociais, econômicas, políticas e culturais em diversas partes do planeta.


A tradicional exclusão da mulher na esfera do trabalho

No campo do trabalho, a exclusão da mulher não encontra explicação nas conjunturas econômicas, pois suas raízes estão fincadas em matrizes diversificadas, a exemplo dos interesses do patriarcado em manter a mulher distante do patrimônio e numa relação hierárquica inferior, imputando-lhe a atribuição de prestar serviço social gratuito, de importante relevância para a sociedade pensada para o homem. A desconstrução dessa forma de exclusão da mulher e sua integração no mundo do trabalho se dão a partir do século XIX através do empenho e da luta feminista travada na sociedade mundial.
De acordo à narrativa histórica de Michel (1983), a penetração da mulher no mercado de trabalho se dá pela via da filantropia que é usada pela mulher da classe dominante como reação para sair do isolamento do lar. Segundo a autora, a importância dada à vida familiar e à casa pelas classes médias, desde o século XVII, fortaleceu a ideologia dos papéis domésticos e educativos para o feminino. De igual modo, as mulheres dos meios populares reagem ao isolamento do lar, buscando alternativas de forma coletiva. Assim, saem juntas para exigir a paz, e como domésticas, denunciam ao parlamento seus horários exaustivos, sufocantes, enquanto as comerciantes protestam contra as prisões por dívidas.
Como se pode observar, a quebra do isolamento do lar e a participação da mulher no espaço público se deram por um processo de reações e conquistas que se arrasta até os dias atuais. Até mesmo a sua iniciação no trabalho remunerado, que se deveu a uma necessidade do capital de ampliar o seu consumo, ocorreu de forma desigual, pois ela não foi colocada no mercado apenas na condição de força de trabalho, mas também na de mulher estigmatizada e vítima de relações desumanas na esfera privada. Assim, como observam Bruschini e Rosemberg (1982), a atuação da mulher no mercado de trabalho se dá, até os dias atuais, em condições visivelmente desiguais e excludentes. O preconceito de inferioridade designado ao sexo feminino, durante séculos – através da religião, das leis, da escola e da família, onde, cotidianamente, a própria mulher reproduz a superioridade masculina através da educação familiar ou informal – é apropriado, inclusive, pelo capital e reproduzido nas relações de trabalho pelo mesmo sistema capitalista, que convoca a mulher para o mercado de trabalho remunerado e que a aceita como trabalhadora legítima.
No mercado, dada a sua condição de mulher (paciente, obediente, dedicada etc.), vende a sua força de trabalho a preço mais baixo: o seu trabalho é considerado ajuda no orçamento familiar; concentra as atividades em setores extensivos do doméstico, a exemplo da educação, saúde, assistência social, enfermagem e têxtil; desenvolve tarefas dificultosas, que o homem, muitas vezes, se nega a fazer; e permanece distante das esferas de comando e decisão entre os próprios trabalhadores.
Na classe dos trabalhadores, a situação de desigualdade se repete. Os preconceitos que favorecem a reprodução de sua inferioridade (mãe, dócil, frágil, dedicada etc.) são apropriados pelos colegas masculinos, que, ao invés de acolhê-la como companheira, parceira, indivíduo, aceita-na na condição particular de mulher (Pateman, 1993).
Na interseção do público e do privado, a desvantagem feminina é total. O homem, de modo geral, ainda continua ausente na divisão das tarefas domésticas. Por não ter conquistado a eqüidade de gênero na esfera privada, ou seja, a participação do masculino nas tarefas da casa, a mulher assume uma carga de trabalho no espaço público semelhante ou mais exaustiva do que a do trabalhador masculino, e no âmbito privado cabe-lhe a responsabilidade da labuta da casa, do preparo do alimento, do cuidado dos filhos e sua educação informal, do cuidado dos velhos da família, da saúde dos familiares e, evidentemente, da reprodução biológica e física da força de trabalho (Bruschini, 1990). A contradição na super exploração das múltiplas jornadas de trabalho desempenhadas pela mulher se constrói no fato de que, mesmo se sacrificando para conciliar as várias tarefas cotidianas, essa trabalhadora descobre na esfera pública a trilha da sociabilidade, possibilitada pelo trabalho coletivo que lhe permite desconstruir preconceitos secularmente designados ao ser mulher e substituí-los por suas reais qualidades. No espaço da sociabilidade do trabalho, ela toma ciência de que pode gerenciar a própria vida, pode exercer a chefia da família e, através do convívio coletivo, livra-se da timidez, aprende a sorrir e a criar sonhos (Fischer, 1997).

A reestruturação do trabalho e a exclusão da mulher

Mesmo na tempestade da globalização, a importância da mulher tem se tornado evidente. A lógica da globalização e das cadeias produtivas, muito oportunas para o capitalismo contemporâneo, incorporou os bolsões mundiais de trabalho barato, sem necessariamente elevar-lhes a renda. Os empregos formais crescem menos rapidamente do que os diretos. Quando o trabalhador encontra oportunidades bem remuneradas no trabalho flexível, exerce uma jornada que lhe rouba qualquer possibilidade de lazer e capacitação. O setor informal acumula o trabalho precário e a miséria. E especialmente nos países pobres, os governos comprometidos com a estabilidade não têm conseguido orçamentos suficientes nem estruturas eficazes para garantir a sobrevivência dos novos excluídos (Dupas, 1999).
Na conjuntura da reestruturação produtiva e implementação do projeto neoliberal, ou seja, no quadro que Mota (In Duque 2000) define como busca de estabelecimento de um novo equilíbrio instável, que tem como exigência básica a reorganização do papel das forças produtivas na recomposição do ciclo de reprodução do capital, tanto na esfera da produção como das relações sociais, a situação da mulher vem tomando visibilidade. O desemprego provocado pela chamada onda tecnológica tem levado a mulher a assumir cada vez mais a chefia da família. O homem, como tradicional provedor da família, cede lugar à mulher, que se torna provedora parcial ou total das necessidades da prole, afirmando assim sua competência no desempenho da atividade masculina, mesmo numa conjuntura adversa e desigual. Elas permanecem ganhando, em geral, menos do que o homem e sujeitam-se a realizar tarefas em situação precária adequando-se à flexibilização do trabalho defendida pelo projeto neoliberal, como sugerem os seguintes dados do PNAD usados por Saffioti (1997). Em 1990, no topo da escala de salário estava o macho branco, em relação ao qual a mulher branca ganhava em média 55,3%; o homem negro 48,7% e a mulher negra ou parda 27%. As diferenças convertidas em desigualdades alijam a mulher do exercício de atividades de maior prestígio e melhor remuneração. É a igualdade, num contexto social burguês, contribuindo para tornar o projeto neoliberal mais perverso. A igualdade pressupõe um ordenamento a ser alcançado através de políticas de eqüidade, pois são estas que consideram as diferenças e presumem as identidades. A diferença constitui uma face da identidade, ou seja, da relação entre o eu e os outros, sendo esta a forma de as diferenças serem construídas e percebidas. Nesse sentido, um indivíduo só pode ser portador e criador de conhecimentos, criador e executor de práticas quando se relaciona com os outros. A práxis é responsável pela construção das subjetividades que se objetivam por meio de novas práticas. Assim sendo, cada ser humano é a história de suas relações sociais.



Exclusão e violência

As clivagens que sustentam a ordem burguesa e que contribuem para aprofundar as desigualdades carecem de uma nova conjuntura, composta por outra sociabilidade. Uma conjuntura em que todos tenham acesso aos bens e serviços produzidos socialmente e em que prevaleça, principalmente, educação igual para meninos e meninas, possibilitando a formação de comportamentos semelhantes nas relações de gênero. A educação, seja a informal doméstica, seja a instrução escolar, se constitui numa das bases da exclusão e da violência contra o feminino, disseminada em vários contextos da sociedade. É a partir de detalhes sutis como os brinquedos infantis, a exemplo do carrinho, da arma e da boneca, que a criança é preparada para o espaço público, reservado ao masculino e, portanto, o mais violento, e o privado, reservado ao feminino, o da submissão. O carro e o revólver, simbolizando o espaço público, representam a violência, a decisão, o domínio etc. A boneca está associada ao trabalho da casa, ao fogão e à maternidade. Dessa forma, vão sendo atribuídas personalidades para homens e mulheres, gerando a necessidade da existência de um ser frágil - sensível, dócil - para justificar o outro ser forte – provedor, agressivo, frio, intolerante, reiterando assim a cultura patriarcal e sexista e garantindo a assimetria entre os gêneros. Tal assimetria justifica desigualdades e exclusões e gera pólos de opressores e oprimidos, que se manifestam com maior visibilidade nas relações de gênero no espaço privado através do fenômeno universal da violência, que atinge de forma particular mulheres de diferentes partes do mundo e perpassa etnias, raças e classes sociais.
No Brasil, a violência exercida contra a mulher tem se constituído em preocupação de pesquisadores e pesquisadoras, juntamente com a luta pelo direito à cidadania nos âmbitos jurídico, educacional, sexual e econômico. Estudos sobre tal problemática revelam o seu caráter complexo e multidimensional, que se estende sem fronteiras por diferentes países e regiões sob vários ângulos, a exemplo da violência doméstica, o assédio sexual, o estupro, exploração sexual de crianças e adolescentes, e turismo sexual.

A luta feminista contra a exclusão da mulher

Um dos primeiros esforços das estudiosas feministas centrou-se na temática de estudo sobre a mulher, área que ainda sofria para impor sua legitimidade no campo universitário. Esses estudos eram tributários dos movimentos sociais dos anos 60 e 70 e resultantes da segunda onda do feminismo. Como expressão pública de uma luta manifestada em outros momentos, em razão da conjuntura internacional que favorecia as mudanças, o feminismo desenvolveu-se com força e organização que pareciam lhe garantir continuidade. Esse movimento, a partir da década de 80, toma novo direcionamento, enveredando para a formação de um novo conceito, o de gênero.
Várias feministas envolvidas com a militância se iniciaram nos trabalhos de reflexão e produção acadêmica. O conceito de gênero, surgido no contexto anglo-saxão, passou a ser utilizado com o sentido de caracterizar uma relação. Sem dúvida não tratava apenas de um novo rótulo, porém de opção por uma mudança de ordem epistemológica, ou seja, uma via teórica. A desvinculação da militância não se deu de imediato, e as mulheres permaneceram centradas no eixo da denúncia da opressão, que tinha um caráter mais descritivo do que analítico. Gradualmente, o recorte analítico ganha espaços, e as feministas realizam análises consistentes nos campos da sociologia, da história, da literatura e da educação.
Ao voltar-se para si próprio, as estudiosas do feminismo tentam construir um conceito de gênero desvinculado do sexo, que se referia à identidade biológica de uma pessoa. Gênero é construção social do sujeito masculino ou feminino. Nesse sentido, Joan Scott (1989), associando a categoria gênero aos limites das correntes teóricas do patriarcado, do marxismo e da psicanálise, tenta explicar a subordinação da mulher e a dominação dos homens. Aquela autora analisa o gênero como elemento constitutivo das relações sociais baseadas nas diferenças entre os sexos e como a primeira forma de manifestar poder a partir de quatro dimensões inter-relacionais: simbólica, organizacional, normativa e subjetiva.
A dimensão simbólica enfatiza as representações múltiplas e contraditórias, a exemplo de Maria evocando pureza e bondade, e Eva simbolizando o pecado, o mal.
A dimensão normativa evidencia interpretações do significado dos símbolos que tentam limitar e conter suas possibilidades metafóricas, ou seja, conceitos que são expressos nas doutrinas religiosas, educativas, científicas, políticas e jurídicas que trazem duplo sentido na definição do masculino e do feminino.
A dimensão organizacional diz respeito às organizações e instituições sociais como mecanismos que aprofundam as assimetrias entre os gêneros.
A dimensão subjetiva versa sobre as necessidades de examinar as maneiras como as identidades de gênero são construídas e relacionadas com atividades organizacionais, sociais e representações culturais historicamente situadas.



Joan Scott fundamenta suas abordagens nos seguintes eixos teóricos:

a. As relações de gênero possuem uma dinâmica própria, mas também se articulam com outras formas de dominação e desigualdades sociais (raça, etnia, classe).
b. A perspectiva de gênero permite entender as relações sociais entre homens e mulheres, o que pressupõe mudanças e permanências, desconstruções, reconstrução de elemento simbólicos, imagens, práticas, comportamentos, normas, valores e representações.
c. A categoria gênero reforça o estudo da história social, ao mostrar que as relações afetivas, amorosas e sexuais não se constituem realidades naturais.
d. A condição de gênero legitimada socialmente se constitui em construções, imagens, referências de que as pessoas dispõem, de maneira particular, em suas relações concretas com o mundo. Homens e mulheres elaboram combinações e arranjos de acordo com as necessidades concretas de suas vidas.
e. As relações de gênero, como relações de poder, são marcadas por hierarquias, obediências e desigualdades. Estão presentes os conflitos, tensões, negociações, alianças, seja através da manutenção dos poderes masculinos, seja na luta das mulheres pala ampliação e busca do poder.
Outra autora que traz importante contribuição à temática do gênero é Teresita Barbieri (1992), que centra sua análise nos limites teóricos do patriarcado, desenvolvendo estudos sobre as condições de vida, de trabalho e sobre a cultura produzida pela mulher. Além disso, tece suas considerações sobre a sociedade como elemento gerador da subordinação feminina, enfatizando, ainda, que é da sociedade que surge e se expande a categoria gênero.
Como se pode observar, Scott e Barbiere compartilham da idéia de que o gênero se instaura questionando ordens epistemológicas, atravessando territórios interdisciplinares, efetivando o diálogo entre o movimento social (o feminismo) e a academia.
Tendo realizado o feito de formular um conceito de gênero que ilustra as diferenças reais entre homens e mulheres, ou seja, a de origem biológica e a cadeia de desigualdades socialmente construídas a partir das diferenças, os movimentos feministas tentam dar visibilidade às restrições impostas à mulher nos diversos segmentos da sociedade.
As restrições impostas à mulher dão lugar a um processo de exclusão que freqüentemente se ancora nas diferenças. Essa idéia da diferença permeia discursos hegemônicos, estando presente em falas sobre as desigualdades de gênero, impedindo que se lide adequadamente com o que distingue homens e mulheres. Diferença faz par com identidade, assim como desigualdade o faz com igualdade. No pensar de Laurentis (1987), o ser humano, ao tornar-se o “sujeito múltiplo”, percebe suas identidades sociais básicas (gênero, raça, etnia) e, por conseguinte, as diferenças que apresentam entre si.
No entanto, como são típicos da ideologia, os fenômenos são apresentados de forma inversa, traduzindo desigualdade por diferença, inversão que está, muitas vezes, presente nas esferas dos valores, crenças, benefícios, direitos e privilégios. Segundo Saffioti & Almeida (1995), “Rigorosamente, toda diferenciação, seja da natureza, seja da sociedade, é positiva, porquanto representa enriquecimento. Representações sobre a diferença podem ser apropriadas pela ideologia” e transformadas em estigmas, portanto, em algo negativo, conforme tem ocorrido com o feminino ao longo dos séculos.

Considerações finais

O desafio de romper o esquema binário, em que o masculino e o feminino se constroem na oposição um ao outro, tem sido desafiante para o movimento feminista, que se propõe a desmontar um esquema construído numa lógica patriarcal que dificulta a percepção e construção de mundo de outras formas. Algumas das estudiosas do feminismo, a exemplo de Joan Scott, se apropriam de teorizações pós-estruturalistas da desconstrução, como a de Derrida - para o qual o pensamento ocidental vem operando na base de princípios expressados pela hierarquização de pares opostos - para pensar as relações de gênero.
A proposta de desconstrução é, pois, a de desmontar a lógica das oposições binárias do pensamento tradicional, evidenciando que estas são históricas e socialmente construídas, e rejeitar o caráter fixo e permanente da oposição binária de uma historicização genuína em termos de diferença sexual, dando visibilidade aos sujeitos diferentes. A descontrução da polaridade masculino/feminino poderá ser útil para desmontar a lógica binária que rege outros pares de conceitos a ela articulados, tais como público/privado produção/reprodução, cultura/natureza etc. No processo de desconstrução, é necessário atentar para o fato de que o oposto da igualdade é a desigualdade, ao invés da diferença. Ao lado da proposta de desconstrução, está a de construir a lógica da diferença como elemento positivo, pautado na identidade e sem a desigualdade, considerando a diferença dos termos, mas mostrando que um está presente no outro, e portanto, ambos podem ser equivalentes. As diferenças entre homens e mulheres, ao se afirmarem, rompem a unidade, impossibilitando a existência de uma identidade masculina e de uma outra identidade feminina. Elementos como classe, etnia, religião, idade etc. atravessam a pretensa unidade de cada elemento do par, transformando em múltiplo o sujeito masculino ou feminino pensado no singular.


Biblografia:

ALAMBERT, Zuleika. Feminismo: o ponto de vista marxista.Nobel: São Paulo, 1986.
BANDEIRA, Lourdes e SUAREZ, Mireya (Orgs.) Violência e crime no Distrito Federal. Paralelo 15, Universidade de Brasília, Brasília:1999.
BARBIERI, Teresita. Sobre a categoria de gênero: uma introdução teórico-metodológia. SOS Corpo, Recife: 1992.
BOURDIEU, Pierre Dominação masculina. Bertrand Brasil, Rio de Janeiro: 1999.
BRUSCHINI, Maria Cristina Aranha. Mulher, casa e trabalho: o cotidiano nas camadas médias paulistas. Vértice, São Paulo: 1990.
BRUSCHINI, M. C. e ROSEMBERG, Fulvia. Trabalhadoras do Brasil. Brasiliense, São Paulo: 1982.
CASTEL, Robert. As metamorfoses da questão social: uma crônica do salário. Vozes, Petrópolis: 1998.
DUPAS, Gilberto. Economia global e exclusão social. Paz e Terra, São Paulo:1999.
FISCHER, Izaura R. A trabalhadora rural: conscientização na empresa agrícola moderna. Dissertação (Administração Rural e Comunicação Rural) Universidade Federal Rural de Pernambuco, 1997.
GROSSI, Mirian Pilar e PEDRO, Joana Maria (orgs). Masculino, feminino, plural: gênero na interdisciplinaridade. Ed. Mulheres, Florianópolis: 1998.
LAURETIS, Tereza de. The technology of gender. In: Lauretis (org.) Indiana University Press, 1987.
NASCIMENTO, Elimar Pinheiro do. O fenômeno da exclusão social no Brasil. INED n.3, 1996.
PATEMAN, Carole. O contrato Sexual. Paz e Terra, São Paulo: 1993
SAFFIOTI, Heleieth I. B. Eqüidade e paridade para obter igualdade. In: Revista O social em questão. Ano I n.1, jan-jun, 1997.
SAFFIOTI, h, i. b.& AMEIDA, S.S. Violência de gênero: poder e impotência. Revinter, Rio de Janeiro:1995
SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil para a análise histórica. Educação e Realidade, V.20(2), 1995.



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imagens/Google
Maria Beatriz do Nacimento, nasceu em Aracaju, Sergipe, em 12 de julho de 1942, a mãe dona Rubina Pereira do Nascimento era dona de casa e, o pai Francisco Xavier do Nascimento pedreiro. Beatriz era a oitava filha entre os dez irmãos(ãs). Com 7 anos migrou-se juntamente com sua família para a cidade do Rio de Janeiro, no final de 1949, período de expressiva migração nordestina para o Sudeste brasileiro. A família se instalou em Cordovil subúrbio do Rio de Janeiro. 
Mulher negra, nordestina, quilombola urbana contemporânea, historiadora, poeta,pensadora, pesquisadora, ativista e autora seus estudos se iniciam mais precisamente entre 1968 e 1971 ocasião que cursava a graduação em história na UFRJ. O trabalho mais conhecido e de maior circulação foi o documentário ORI (1989) onde são registrados os movimentos negros brasileiros entre os anos de 1977 e 1998, passando pela relação entre Brasil e África tendo como idéia central o quilombo.

Fonte: In.: Ratts, Alex, Eu sou atlântica – sobre a trajetória de vida de Beatriz Nascimento, Imprenssa Oficial do Estado de São Paulo, Instituto Kuanza, 2007.

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Por uma infância sem Rascismo




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Documentário: "Vênus Negra" aborda colonialismo e racismo na Europa



Em 1810 existia em Londres um bairro onde eram apresentados shows de horrores com participações de anões, mulheres barbadas e outras atrações consideradas bizarras pelo povo na época. Dentre elas estava Saartjie Baartan, uma empregada doméstica africana de 25 anos que foi levada à Inglaterra pelo seu patrão Hendrick Caesar, que decidiu ganhar dinheiro apresentado-a publicamente como a selvagem Vênus Hotentote. Saartjie pertencia à tribo dos hotentotes, cuja característica predominante era o acúmulo de gordura nas nádegas e o chamado "avental hotentote", uma anomalia na região genital.
Ela fazia seu show dentro de uma jaula, com uma roupa que mais expunha do que escondia seu corpo e, instigada por seu "dono", dançava, atacava a plateia e era ridicularizada. Quando autoridades locais começaram a investigar e acusar Caesar de escravidão, eles foram embora para Paris. Lá, Saartjie passou não apenas a ser apresentada publicamente como uma criatura abominável, obrigada a participar de shows eróticos, mas também a se prostituir.
É esta história triste e verídica que o diretor e roteirista franco-tunisiano Abdellatif Kechiche (O Segredo do Grão) conta em seu Vênus Negra (Venus Noire, 2010), exibido no último Festival de Veneza e provavelmente um dos filmes mais chocantes do ano. Pesado e com longas cenas ininterruptas que mostram a horrível exposição pela qual Saartjie era vítima, é quase uma tortura assisti-lo. Mesmo assim, prende o espectador durante suas 2h40 de duração.
O grande destaque de Vênus Negra é a estreante atriz cubana Yahima Torres. Assim como a verdadeira Saartjie, ela tem seu corpo exposto na tela durante quase todo o filme e sua expressão é de apatia. Apenas em dois momentos sua personagem chora, em cenas que emocionam.
O questionamento por trás do roteiro é "até onde vai a curiosidade e a exploração humana perante algo ou alguém considerado fora dos padrões?". A história da Vênus Hotentote se passou no século XIX, mas a dúvida é pertinente também aos dias de hoje. Claro que não existem mais shows de horrores nas ruas, mas a nossa exploração da morbidez resiste You Tube afora. É impossível não manter os olhos fixos em Saartjie Baartan. Vênus Negra tenta entender a linha tênue que separa o curioso do humilhante.

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  • E FOI INVENTANDO O CANDOMBLÉ ...

No começo não havia separação entre O Orum, o Céu dos orixás, e o Aiê, a Terra dos humanos. Homens e divindades iam e vinham, coabitado e dividindo vidas e aventuras. Conta-se que, quando o Orum fazia limite com o Aiê, um ser humano tocou o Orum com as mãos sujas. O céu imaculado do Orixá fora conspurcado. O branco imaculado de Obatalá se perdera. Oxalá foi reclamar a Olorum. Olorum, Senhor do Céu, Deus Supremo, irado com a sujeira, o desperdício e a displicência dos mortais, soprou enfurecido seu sopro divino e se separou para sempre o Céu da Terra.

Assim, o Orum separou-se do mundo dos homens e nenhum homem poderia ir ao Orum e retornar de lá com via. E os orixás também não poderiam vir à Terra com seus corpos.

Agora havia o mundo dos homens e dos orixás, separados.

Isoladas dos humanos habitantes do Aiê, as divindades entristeceram.

Os orixás tinham saudade de suas peripécias entre os humanos e andavam tristes e amuados.

Foram queixar-se com Olodumare, que acabou consentindo que os orixás pudessem vez por outra retornar à Terra.

Para isso, entretanto, teriam que tomar o corpo material de seus devotos.

Foi a condição imposta por Olodumaré.

Oxum, que antes gostava de vir à Terra brincar com as mulheres, dividindo com elas sua formosura e vaidade, ensinando-lhes feitiços de adorável sedução e irresistível encanto, recebe de Olorum um novo encargo: preparar os mortais para receberem em seus corpos os orixás.

Oxum fez oferendas a Exu para propiciar sua delicada missão. De seu sucesso dependia a alegria dos seus irmãos e amigos orixás. Veio ao Aiê e juntou as mulheres à sua volta, banhou seus corpos com ervas preciosas, cortou seus cabelos, raspou suas cabeças, pintou seus corpos.

Pintou suas cabeças com pintinhas brancas, com as penas de uma galinha d’ angola.

Vestiu-as com belíssimos panos e fartos laços, enfeitou-as com jóias e coroas.

O ori, a cabeça, ela adornou ainda com pena de ecodidé, pluma vermelha, rara e misteriosa do papagaio da costa.

Nas mãos as fez levar abebés, espadas, cetros, e nos pulsos, dúzias de dourado indés.

O colo cobriu com voltas e voltas de coloridas contas e múltiplas fileiras de búzios, cerâmicas e corais.

Na cabeça pôs um cone feito de manteiga de ori, finas ervas e obi mascado, com todo condimento de que gostam os orixás.

Esse oxo atrairia o orixá ao ori da iniciada e o orixá não tinha como se enganar em seu retorno ao Aiê.

Finalmente as pequenas esposas estavam feitas, estavam prontas, estavam odara.

As iaôs eram as noivas mais bonitas que a vaidade de Oxum conseguia imaginar.

Estavam prontas para os deuses.

Os orixás agora tinham seus cavalos, podiam retornar com segurança ao Aiê, podiam cavalgar o corpo das devotas.

Os humanos faziam oferendas aos orixás, convidando-os à Terra , aos corpos das iaôs.

Então os orixás vinham e tomavam seus cavalos.

E, enquanto os homens tocavam seus tambores, vibrando os batas e agogôs, soando os xequerês e adjás, enquanto os homens aplaudiam, convidando todos os humanos iniciados para a roda do xirê, os orixás dançavam e dançavam e dançavam.

Os orixás podiam de novo conviver com os mortais.
Os orixás estavam felizes.

Na roda das feitas, no corpo das iaôs, eles dançavam e dançavam e dançavam.

Estava inventado o candomblé.


- Este mito é corrente em diversos terreiros Nagô de Recife e em terreiros Queto de São Paulo e do Rio de Janeiro.

**** Texto retirado da Mitologia dos Orixas de Reginaldo Prandi, Companhia das Letras, 2001.


  • No dia 30 de abril o  Geledés Instituto da Mulher Negra comemorou 23 anos de existência e como parte desta celebração foram reeditados os Cadernos Geledés. Os titulos são:
Mulher Negra e Saúde;
Esterilização: Impunidade ou Regulamentação ?;
Não a Pena de Morte;
Mulher Negra.
Mais informações no site: www.geledes.org.br
Guerreiras e guerreiros.

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  • Mães de Umbigo - Parteiras da Amazônia    
     É uma exposição que retrata o cotidiano das parteiras tradicionais da região da floresta amazônica brasileira (estados do Amapá, Acre e Pará) e convida a uma jornada íntima da realidade pouco conhecida por nós. Imagens feita pela fotógrafa e cineasta Stephani Pommez, reúne um ensaio de 53 fotos e um documentário produzido em parceria com a Zed. Arte National Geographic Chanels (Amazoni, la vie au bout) onde mostram momentos da vida dessas mulheres ribeirinha que moram em comunidades nas margens das centenas de rios e igarapés da Bacia Amazônica e que guardam a vida, os costumes e a cultura desta região

SESC Pompéia
Rua Clélia, 93 – 3871-7700
De 26 de abril a 26 de junho 2011
Terça a sábado, das 10h às 22h. Domingos e feriados, 10h às 20h.


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"Você ri da minha roupa
Você ri do meu cabelo,
Você ri da minha pele,
Você ri do meu sorriso"
Sandra Sá - cantora

Violência Doméstica e de Gênero:
um olhar para a mulher afro-brasileira
Por, Juliana Queiroz


Antes de aprofundar o estudo do tema, é importante conhecer alguns dados estatísticos sobre a situação social das mulheres negras:


 As mulheres negras correspondem a 18% da População Economicamente Ativa (PEA), ou seja, 14 milhões de pessoas, de acordo com a OIT;

 homens negros têm renda maior, chegando a ser quase o dobro quando comparado à de mulheres negras. As mulheres negras têm renda menor, chegando a ser duas vezes menor, quando comparada com a renda dos homens negros. Já os homens negros ganham a metade dos rendimentos da mulher branca;

 Segundo o último censo do IBGE, enquanto 45% das mulheres brasileiras são negras pretas e pardas), em termos de renda elas ocupam a base da pirâmide sócio-econômica;

 Se comparado ao percentual de mulheres brancas, há uma grande concentração de mulheres negras nos serviços domésticos, destacando-se também o trabalho sem remuneração. Isso evidencia que a mulher negra está mais exposta a vínculos empregatícios de baixo status social, baixa remuneração e acesso precarizado a direitos trabalhistas;

 A população negra brasileira tem uma expectativa de vida de 64 anos, seis anos inferior à da população branca. Estudo da Fundação Seade sobre óbitos em São Paulo revela que 40,7% das mulheres negras morrem antes dos 50 anos;

 O risco relativo de mortes maternas de mulheres negras é 7,4 vezes maior do que as não-negras;

 As taxas de alfabetização e escolaridade são de 90% e 83% para as mulheres brancas, contra 78% e 76% para as negras, respectivamente;

 Das famílias chefiadas por mulheres negras, 60% têm renda inferior a um salário mínimo.


Entre os dias 19 e 25 de julho de 1992, mulheres negras de aproximadamente 75 países reuniram-se na República Dominicana para a realização do 1º Encontro de Mulheres Negras da América Latina e do Caribe. A partir desse encontro foi instituído o dia 25 de julho como o Dia da Mulher Negra da América Latina e do Caribe. Iniciou-se também a Rede de Mulheres Negras pertencentes a esta região. O encontro teve o objetivo comum de dar visibilidade à presença da mulher negra nos continentes participantes, possibilitando a discussão de temas relativos à condição das mulheres, principalmente na denúncia do racismo.

As condições gerais de vida e sustentabilidade da maioria da população negra brasileira e dos países da América Latina e Caribe têm sido mantidas praticamente as mesmas desde o início do século. Nosso compromisso é repensar os conceitos de gênero, ampliando e fortalecendo a luta organizada de mulheres negras e unir forças para combater o racismo, sexismo, discriminação, preconceito e todas as formas de violência com as mulheres; dar visibilidade às inovações sociais da Lei Maria da Penha e lutar para sua efetivação; e discutir estratégias de inserção social e promoção dos direitos humanos da mulher negra, que nos indicadores sociais permanece como maior vítima da violência doméstica.

Segundo a pesquisadora Benilda Regina Brito , “as instituições que hoje atendem mulheres, tanto para abrigar como para colher denúncia, são unânimes em afirmar que a maioria das mulheres que hoje denunciam violência doméstica são negras". O estudo desenvolvido pela autora, abrangendo três estados, entre 1997 e 2002, apontou que 62% das mulheres que denunciam violência doméstica são negras. Daí a nossa inquietação. Será que essas mulheres apanham mais pelo mesmo fato de serem historicamente mais violentadas? Maiores denúncias significam maiores agressões?

No Brasil e no mundo há uma série de instrumentos legais que visam promover os direitos das mulheres. O desafio é fazê-los sair do papel e se transformar em políticas públicas. A convenção de Belém do Pará, por exemplo, define o que é violência contra a mulher, o que é violência de gênero. O seu artigo primeiro diz: "para os efeitos dessa convenção, entender-se-á por violência contra mulher qualquer ato ou conduta baseada no gênero que cause morte, dano, ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto na esfera pública quanto na esfera privada".

É importante destacar aqui que embora o “viver sem violência” seja um direito humano, historicamente as mulheres foram agredidas em sua dignidade humana. Na Grécia, elas eram cidadãs de segunda qualidade, inferiores aos homens e, por isso, passíveis de dominação. Sendo assim, seu corpo podia ser violentado, mutilado. Ainda hoje elas figuram como cidadãs de segunda categoria, ou pior, como não-cidadãs tanto em casa como na rua. Como aponta o estudo de Regina Brito, entre as mulheres vítimas de violência doméstica “30% dos casos eram entre vizinhos e parentes, o que justifica o aspecto doméstico da violência racial. A maioria das mulheres era empregada doméstica e 78% negra" .

Ao abordar o tema da Violência Doméstica e a Mulher Negra, a escritora, editora da Revista Eparrei e diretora-fundadora da Casa de Cultura da Mulher Negra de Santos, Alzira Rufino, nos ensina: "Vivendo num país extremamente racista, que é também um dos campeões da impunidade dos agressores de mulheres, nós, mulheres negras, estamos sob a mira da violência doméstica, sexual e racial, violências e discriminação agravadas pela exclusão econômica. A perversidade do racismo e machismo do sistema de saúde referenda a morte de mulheres, com um diagnóstico que não traz a violência doméstica e sexual nem o racismo para o atestado de óbito como causa principal."

E continua, com ênfase direta às mulheres negras: "Nós, do movimento de mulheres, e em especial do movimento de mulheres negras, temos que ter mais exigências no planejamento das políticas de saúde, ressaltando a necessidade urgente da inclusão da violência doméstica como um dos pavios de explosivos da destruição psicológica e física da população feminina. Chegamos num tempo em que os movimentos sociais que defendem tantas bandeiras não podem mais tolerar cenas de mulheres de olho roxo, hematomas internos e externos, numa violência sem diagnóstico."

As estatísticas oficiais dão conta e os meios de comunicação confirmam a freqüência de situações de violências a que são submetidos grupos socialmente vulneráveis como as mulheres, os afrodescendentes, os indígenas, homossexuais, entre outros. A violência atinge a todas as mulheres, mas no caso das negras, além da violência de gênero, elas sofrem violência racial, piorando consideravelmente a situação. As estatísticas brasileiras não abrangem a questão, mas pesquisas estadunidenses revelam que a taxa de homicídios para mulheres negras é de 12,3 para cada 100 mil assassinatos, enquanto que a taxa para mulheres brancas é de 2,9 para 100 mil.

Existe uma classificação acerca dos tipos de violência , como segue:

Violência contra a mulher - é qualquer conduta – ação ou omissão – de discriminação, agressão ou coerção, ocasionada pelo simples fato de a vítima ser mulher e que cause dano, morte, constrangimento, limitação, sofrimento físico, sexual, moral, psicológico, social, político ou econômico ou perda patrimonial Essa violência pode acontecer tanto em espaços públicos como privados;

Violência doméstica - quando ocorre em casa, no ambiente doméstico, ou em uma relação de familiaridade, afetividade ou coabitação. As agressões domésticas incluem: abuso físico, sexual e psicológico, a negligência e o abandono;

Violência de gênero - violência sofrida pelo fato de se ser mulher, sem distinção de raça, classe social, religião, idade ou qualquer outra condição, produto de um sistema social que subordina o sexo feminino;

Violência familiar - violência que acontece dentro da família, ou seja, nas relações entre os membros da comunidade familiar, formada por vínculos de parentesco natural (pai, mãe, filha etc.) ou civil (marido, sogra, padrasto ou outros), por afinidade (por exemplo, o primo ou tio do marido) ou afetividade (amigo ou amiga que more na mesma casa);

Violência física - ação ou omissão que coloque em risco ou cause dano à integridade física de uma pessoa;

Violência institucional - tipo de violência motivada por desigualdades (de gênero, étnico-raciais, econômicas etc.) predominantes em diferentes sociedades. Essas desigualdades se formalizam e institucionalizam nas diferentes organizações privadas e aparelhos estatais, como também nos diferentes grupos que constituem essas sociedades;

Violência moral - ação destinada a caluniar, difamar ou injuriar a honra ou a reputação da mulher;

Violência patrimonial - ato de violência que implique dano, perda, subtração, destruição ou retenção de objetos, documentos pessoais, bens e valores;

Violência psicológica - ação ou omissão destinada a degradar ou controlar as ações, comportamentos, crenças e decisões de outra pessoa por meio de intimidação, manipulação, ameaça direta ou indireta, humilhação, isolamento ou qualquer outra conduta que implique prejuízo à saúde psicológica, à autodeterminação ou ao desenvolvimento pessoal;

Violência sexual - ação que obriga uma pessoa a manter contato sexual, físico ou verbal, ou a participar de outras relações sexuais com uso da força, intimidação, coerção, chantagem, suborno, manipulação, ameaça ou qualquer outro mecanismo que anule ou limite a vontade pessoal. Considera-se como violência sexual também o fato de o agressor obrigar a vítima a realizar alguns desses atos com terceiros;

Violência racial - está diretamente ligada ao racismo, que é um pensamento de existência de superioridade de raças e no caso da mulher negra essa violência se destina a diminuir sua estima para que a mesma sinta-se inferior esteticamente à mulher branca que incorpora o “padrão ideal de beleza”.

Resultado de uma demanda histórica, um importante instrumento de defesa a favor da mulher é a recentemente aprovada Lei Nº 11.340 de 07 de agosto de 2006, conhecida como Maria da Penha, uma lei contra a Violência Doméstica e Familiar. A Lei Maria da Penha é um instrumento que "cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8º do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências".10

A Lei Maria da Penha é também uma homenagem à mulher que empresta seu nome. O esforço pessoal e a luta de Maria da Penha que, antes violentada por seu marido, transformou-se em uma das pioneiras em defesa dos direitos das mulheres, traz consigo as sementes para a quebra do paradigma que era estabelecido nas relações familiares do antigo modelo patriarcal em que se acreditava (e ainda acredita-se) que o homem é o detentor do poder e da soberania. Contudo, existem ainda muitas batalhas para sua efetivação porque está enraizada na sociedade a idéia de uma mulher submissa, que deverá ter suas estirpes arrancadas no futuro.

A lei 11.340/2006 prevê punições mais rígidas para agressores de mulheres e muda o trâmite das denúncias de violência doméstica. Uma das inovações é que a nova lei alterou a forma de punição dos agressores. As penas previstas variam hoje de três meses a três anos de prisão em regime fechado. Antes, eram de seis meses a um ano. Também passaram a ser consideradas formas de violência doméstica as agressões psicológicas, moral e patrimonial, além da sexual e da física. Além disso, foi eliminada a possibilidade de pagamento de cestas básicas ou doações como forma de punição. Portanto, denuncie! Dê o seu grito! Mobilize sua comunidade! Divulgue os avanços da Lei Federal Maria da Penha, afinal, em briga de marido e mulher se mete a colher!

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Direção: Rudi Lagemann
Atores: Antônio Calloni (Saraiva) Chico Diaz (Tadeu) Otávio Augusto, Vera Holtz, Darlene Glória, Fernanda Carvalho.
Duração: 92 min
Gênero: Drama

Sinopse:
Sinopse


Maria (Fernanda Carvalho) é uma jovem de 12 anos, que mora no interior do nordeste brasileiro. No verão de 2002 ela é vendida por sua família a um recrutador de prostitutas. Após ser comprada em um leilão de meninas virgens, Maria é enviada a um prostíbulo localizado perto de um garimpo, na floresta amazônica. Após meses sofrendo abusos, ela consegue fugir e passa a cruzar o Brasil através de viagens de caminhão. Mas ao chegar no Rio de Janeiro a prostituição volta a cruzar seu caminho.

Infelizmente a sinopse do filme e uma realidade em nosso país. Existe milhares de Marias.
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), conceitua  a prostituição, assim como,  no art. 244- que segue descrita:

Art. 244-A. Submeter criança ou adolescente, como tais definidos no caput do artigo 2º desta Lei, à prostituição ou à exploração sexual:


§ 1º Incorrem nas mesmas penas o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em que se verifique a submissão de criança ou adolescente às práticas referidas no caput deste artigo.


§ 2º Constitui efeito obrigatório da condenação a cassação da licença de localização e de funcionamento do estabelecimento.

O núcleo do tipo penal capitulado no art. 244-A é o verbo submeter, que significa, sujeitar, subjugar, obrigar. Logo, entende-se que comete a conduta típica àquele que sujeita, que subjuga e que obriga a criança ou adolescente á prostituição ou a exploração sexual. Portanto, o tipo legal capitulado no art. 244-A, não incrimina o cliente da prostituta. Mas, sim, aquele que a submete a prostituição, ou seja, aquele que a obriga a se prostituir

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Mexicanas marcham contra violência sexual, (13/6/2011)

Estado.com.br / Efe

Estudantes, donas-de-casa, jovens e travestis participaram deste ato com máscaras, minissaias e tatuagens provisórias com o lema NÃO significa NÃO
Dezenas de mulheres marcharam pelas ruas de Guadalajara

MÉXICO - Dezenas de mulheres se reuniram no domingo, 12, na Cidade do México para exigir respeito a seus direitos e a sua forma de vestir como parte da Marcha das Putas, uma campanha iniciada no Canadá e adotada pelos países latino-americanos contra a violência sexual.
Estudantes, donas-de-casa, jovens e travestis participaram deste ato com máscaras, minissaias e tatuagens provisórias com o lema NÃO significa NÃO.
Alerta, alerta, alerta que caminha, vem a marcha das putas por toda América Latina, foi um grito de ordem das participantes que percorreram mais de cinco quilômetros pelo Paseo de La Reforma.
Não vamos permitir que nos maltrate mais, que nos denigra mais pelo simples fato de nos vestir como nos der na telha (...) é uma maneira de expressão e nenhuma instituição ou governo ou homem pode nos proibir, disse à Agência Efe Edith Estrada, ativista da organização Proyecto 21.
O abuso sexual e as relações desiguais de poder desbarataram o tecido social, declarou o ativista Fernando Chávez ao encerrar a passeata com uma proclamação para rejeitar a estigmatização pela forma de se vestir, assim como o assédio e a violência de gênero.
A Marcha das Putas faz parte de um movimento internacional que começou quando um policial de Toronto disse que se as mulheres não querem ser vítimas de violência que não devem se vestir como vagabundas.
De acordo com diversos organismos civis, a violência de gênero aumentou nos últimos anos no México em até 30% e, segundo seus números, cerca de 1,2 mil mulheres são atendidas anualmente por sofrer algum tipo de violência em casa ou mesmo no trabalho.
Digamos basta em solidariedade às mulheres, disse a ativista Icec Vega.
Números oficiais no México indicam que durante o período 1999-2005 mais de 6 mil meninas e mulheres morreram vítimas de violência sexual.


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A silenciosa adoção à brasileira, (10/6/2011)

Globo.com / Paulo A.S. Mourão* e Paulo C. C. Campos**


No dia 25 de maio foi comemorado o Dia Nacional da Adoção e o governo federal lançou uma tímida campanha de estímulo à adoção, especialmente as tardias. Os dois eventos passaram despercebidos pela imprensa, mas deveriam se constituir numa oportunidade para uma discussão mais aprofundada. A adoção deve ser abordada como parte de políticas públicas voltadas para a infância e a juventude, e não apenas como um ato caritativo individual.
A adoção traduz um rito de passagem. Da decisão de separação do menor, de sua família biológica, à inserção na família adotiva, o tempo precisa ser gerenciado com prudência. O retardo traz consequências negativas sobre o futuro desenvolvimento do menor. Maiores serão os impactos dos maus tratos e do abandono, e também as dificuldades adaptativas ao futuro lar.
No passado, e ainda hoje, ocorrem adoções paralelas ao sistema legal, muitas delas envolvendo espúrias trocas financeiras. São as chamadas adoções à brasileira.
A Organização Mundial de Saúde estima que há 8 milhões de crianças abandonadas no Brasil, porém, apenas 10 mil disponíveis para adoção legal. Paralelamente, dados recentes divulgados pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) registram 86.696 menores infratores.
A Inglaterra possuía cerca de 20 mil adoções por ano na década de 70. Esse número caiu drasticamente para 2.500 adoções nos anos recentes. Tal redução é atribuída principalmente à política de prevenção e interrupção das gravidezes indesejáveis e ao menor preconceito em relação às famílias monoparentais. Essas informações são discutidas no site do serviço social inglês e mostram a inserção das adoções nas políticas sociais publicas.
No Rio Grande do Sul, o único estado que disponibiliza dados pelo site de seu Tribunal de Justiça, há registro de aproximadamente 700 adoções anuais. Considerando a relação proporcional com as respectivas populações, o Rio Grande do Sul possui um número de adoções semelhante ao da Inglaterra no período pós-legalização do aborto. Contudo com uma diferença fundamental: lá, as adoções são cada vez mais precoces e as daqui mais tardias. Em 1999, 39% das adoções na Inglaterra eram de crianças com até 4 anos. Dez anos depois, esse número aumentou para 60%. No caminho inverso, em 2003, 69% das adoções no Rio Grande do Sul eram de crianças com até 4 anos; em 2009 esse número caiu para 51%.
Paradoxal é a análise dos dados quando comparamos a demanda de pretendentes com as faixas etárias dos menores disponíveis para adoção no Brasil. O TJ-RS aponta que há 770 menores disponíveis para adoção e 5.299 pretendentes. Porém, 62% dos menores têm mais do que 10 anos e um número muito reduzido de pretendentes cogita adotar crianças dessa faixa etária (menos que 0,5%). Números muito parecidos aparecem no Cadastro Nacional de Adoção. Existem 4.743 menores aptos para adoção, 62% deles com mais do que 9 anos de idade. Dos 28.346 candidatos a adotantes, menos que 0,5% aceitam menores nessa faixa etária. Os números não se adotam, as crianças envelheceram nos abrigos.
A simples análise quantitativa é suficiente para se deduzir que temos poucas adoções no Brasil e que os menores são colocados tardiamente para a adoção legal. Os Estados Unidos registram cerca de 120 mil adoções ao ano. Apenas o estado do Texas, com o dobro da população do Rio Grande do Sul, possui 10 vezes mais adoções (7 mil por ano). Um número próximo das adoções que se estima ocorrerem para todo o território nacional. O estado do Alasca tem aproximadamente o mesmo número de adoções do Rio Grande do Sul, apesar de a população ser 15 vezes menor.
Os dados do Cadastro Nacional de Adoção mostram que, entre os 10 estados mais populosos do Brasil, o número de menores disponibilizados para adoção por milhão de habitantes, se distribui da seguinte forma: Maranhão: 1,1; Bahia: 4,5; Pará: 6,6; Ceará: 14,3; Rio: 14,4; Minas Gerais: 20,1; Pernambuco: 24,5; São Paulo: 34,6; Paraná: 47,8; Rio Grande do Sul: 75,4. As regiões mais ricas possuem um maior número de menores disponibilizados para adoção em proporção às suas populações.
Basta conversar com pessoas que interagem com o sistema de adoção brasileiro para encontrar relatos estarrecedores, à semelhança da nossa própria experiência. O processo de separação do menor da sua família biológica se estendeu por dois anos, com sucessivos estudos sociais e adiamento da decisão. Finalmente o menor fugiu de casa, criando uma situação de fato, que levou a sua colocação num abrigo. Nós o conhecemos e recebemos sua guarda, em 2007, na cidade de Coronel Fabriciano, MG, com a idade de 11 anos.
O processo atualmente está em análise pelo TJ-MG, depois de inusitada decisão da juíza daquela comarca: deferiu a adoção, mas manteve os vínculos com a mãe biológica. Instaurou uma nova interpretação da lei, legitimando a adoção parcial. Não sabemos quando o processo irá se concluir, mas, em dois anos o menor completa 18 anos e se emancipa de sua família biológica. Terá sido mais rápido do que o sistema judicial e trilhará os caminhos da sua própria adoção.
Uma das facetas dissimuladas do preconceito é o entrave às adoções por gays, lésbicas e famílias homoafetivas. Seu índice foi sentido pela reação de setores conservadores perante a recente decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) ao reconhecer os direitos civis das relações homoafetivas. Os dados do TJ-RS mostram que os homens solteiros constituem o grupo social mais efetivo das adoções: 0,26% dos pretendentes a adoção e 3,78% dos que efetivamente adotam. Provavelmente porque aceitam as adoções tardias. Entretanto, para o conservador é melhor deixar o menor abandonado a lhe assegurar uma família homoafetiva. Cruel condenação fundamentada no preconceito.
Essas observações ajudam-nos a analisar os porquês das reduzidas adoções no Brasil. A verdadeira face da adoção à brasileira é aquela que tem a tez legal: lenta, cega para as novas formações familiares, constrangedora para os adotantes e extremamente tardia para os adotados.

*Médico, professor titular da UFRJ, pesquisador do CNPq e membro da Academia Brasileira de Ciências; **médico do Hospital Federal da Lagoa (Rio)


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Casamento gay é reconhecido em nove países, (11/6/2011)
Agencia Globo

RIO - A batalha pela legalização do casamento gay em Nova York está em seus momentos finais. Até segunda-feira, o Legislativo estadual deve tomar uma decisão. Saiba mais sobre os direitos dos casais homossexuais pelo mundo.

Casamento gay reconhecido
O casamento entre pessoas do mesmo sexo é reconhecido, em nível nacional, em África do Sul, Argentina, Canadá, Espanha, Islândia, Holanda, Noruega, Portugal e Suécia.
Nos Estados Unidos, o casamento gay só pode ser legalizado em nível estadual. A exceção é para a capital Washington. Os estados que reconhecem são: Massachusetts, Connecticut, Iowa, Vermont e New Hampshire.
No México, o casamento gay é legalizado apenas na capital.
União gay reconhecida
Com direitos similares aos contemplados em um casamento civil, os seguintes países reconhecem a união entre pessoas do mesmo sexo: Andorra, Alemanha, Áustria, Brasil, Colômbia, Dinamarca, Equador, Eslovênia, Finlândia, França, Hungria, Irlanda, Luxemburgo, Nova Zelândia, Reino Unido, República Tcheca, Suíça, Tasmânia e Uruguai.
Alguns estados e cidades de Venezuela, Estados Unidos, México e Austrália também reconhecem esses mesmos direitos.
Reconhecimento ao casamento gay em debate
O casamento gay está em debate em vários países, inclusive em alguns que já reconhecem a união civil homossexual. São eles: Albânia, Bulgária, Camboja, Chile, Costa Rica, Chipre, Cuba, Estônia, Grécia, Itália, Japão, Liechtenstein, Malta, Nepal, Paraguai, Peru, Polônia, Romênia e Venezuela. Onze estados americanos, incluindo Nova York, também debatem a situação.


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Imagens/Google
BALANÇANDO SOB A LUZ DO SOL: STRESS E MULHER NEGRA


Balançando sob a luz do sol, a melancolia há de esmorecer. Balançando sob a luz do sol, as lagrimas hão de secar. Quando as mulheres negras foram trazidas à força para o litoral americano, sendo escravizadas e mais maltratada do que gado, elas trincaram os dentes e, decididas a sobreviver em seu destino, deram a luz ao blues, a melancolia. Desde então, todas as mulheres afro-americanas têm procurado uma cadeira de balanço e a luz do sol para espantarem suas tristezas...
Você já se perguntou alguma vez por que tantas mulheres negras parecem sentir raiva? Ou por que caminhamos como se carregássemos tijolos nas nossas bolsas e fossemos golpear e maldizer uma amiga simplesmente por ter derrubado um chapéu? Isso acontece por que o stress é a bainha das nossas roupas, esta grudado aos nossos cabelos, impregnado em nosso perfume e pintado em nossas unhas. O stress vem de sonhos adiados, de sonhos reprimidos; vem de promessas não cumpridas, de falsas promessas; vem de sempre estarmos por baixo, de nunca sermos consideradas bonitas, de não nos valorizarem, de tirarem vantagem de nós; vem de sermos mulheres negras na America Branca. Por quanto tempo você acha que pode prender a respiração sem ser asfixiada? Sim, as mulheres negras se suicidam!
Nós nos matamos quando paramos de sorrir; quando tomamos drogas para abafar a dor de ser negra; quando, no desespero de ter “alguém”, permitimos que nosso companheiro ou companheira nos violente física e mentalmente; quando permitimos que privilégios de classe, renda, cor, aparência ou preferência sexual nos dividam; quando mês após mês choramos sozinhas sem ter com quem desabafar. Estamos estressadas. O stress conduz de tal forma as mulheres negras à loucura que nos tornamos especialistas em camuflar nossas angustias.
Nós que inventamos o blues e cantamos canções que nos aqueciam como toalhas quentes, precisamos encontrar cadeiras de balanço; e precisamos encontrá-las já! Deixe que aquela cadeira de balanço faça às vezes de um beijo de uma amiga, um abraço, um aperto de mão, um jantar improvisado, um cafezinho, um ouvido atento, um caminhar lado a lado ou um conselho não solicitado... As mulheres negras se conhecem bem; devemos ajudar umas as outras e dar continuidade ao nosso balançado.
Opal Palmer ADISA
(Escritora e autora de vários livros de contos e poesia.
Nasceu na Jamaica e atualmente vive em Oakland, Califórnia).

Fonte: http://eumulherpreta.blogspot.com/

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“Flor do deserto”, relato cru e impactante da vida da ex-modelo somali Waris Dirie, é um filme que, mesmo abrindo mão de uma qualidade técnica superior, consegue emocionar o público como poucas produções vistas atualmente. A história da garota filha de pais nômades, circuncidada aos 3 anos, que fugiu de casa aos 13, após ser vendida para casamento com um comerciante sexagenário, é forte o suficiente para tornar meramente acessória qualquer outra exigência prática.
Aqui, a linearidade narrativa (cujo roteiro foi inspirado na autobiografia homônima de Waris) e o trabalho arrasador da atriz Liya Kebede, são pontos-chave e principais argumentos para uma sugestão: assista-o. Se optar por fazê-lo, prepare-se para duas horas de representação chocante de uma realidade que não parece tão ferina até ser vista ao vivo ou, ao menos, em uma  tela de cinema.
A autobiografia de Waris (equivalente em somali para ‘flor do deserto’) tornou-se, ainda em seu ano de lançamento, 1998, best-seller mundial. Desde então, com sua luta massiva e ininterrupta pela proibição da circuncisão no mundo, a ex-nômade foi nomeada Embaixadora Itinerante da ONU contra a Mutilação Feminina, figura central de um documentário da BBC sobre o tema e, agora, personagem principal de um longa-metragem.
Não é difícil entender porque a história de Waris desperta tanto fascínio em quem tem a oportunidade de ler seus livros ou assistir ao filme baseado em sua história. Tais materiais traçam um relato exato da conturbada fuga de uma garota que, de tão magra, nem parecia ter forças para se sustentar, e mesmo assim se lançou na travessia de um deserto da região até a capital Mogadíscio, de onde segue de avião até Londres.
O mote dos livros, do filme e do engajado discurso de Waris não é, porém, sua trajetória pessoal. Todos os aparentes produtos da história de vida da somali são apenas o pano de fundo de um esforço – dela, em seus livros e depoimentos, e da direção, no filme – para que a realidade de garotas circuncidadas, em um país cuja independência política só foi conseguida no início dos anos 60, e que ainda carrega índices de desenvolvimento social entre os mais baixos do mundo (expectativa de vida: 48,2 anos; mortalidade infantil: 116,3/mil nascimentos), seja conhecida.
Como a própria personagem faz questão de destacar em um dos melhores diálogos do longa, a exploração da imagem de uma ex-nômade transformada em famosa modelo cansou. O que importa, para ela, é a divulgação de um traço cultural que continua causando irreversíveis danos físicos e psicológicos às mulheres somalis.
Escolhida para dar vida à Waris, a atriz e também modelo Liya Kebede consegue conferir um realismo impressionante à personagem. Sua origem etíope e sua ascensão ao posto de uma das modelos mais bem pagas do mundo, tendo estrelado campanhas da Yves Saint-Laurent, Victoria’s Secret, Dolce & Gabanna, Louis Vuitton, Carolina Herrera, entre outras, podem ter garantido uma identificação quase instantânea entre atriz e personagem. O resultado é assustador. Além disso, e ainda deixando de lado a semelhança física entre as duas mulheres, a atuação de Kebede impressiona justamente por ser dotada daquilo que poucas atrizes conseguem dispor com verdadeira eficácia: uma notável carga dramática em uma atuação sem grandes rasgos e picos emocionais.
Não parece justo citar os defeitos técnicos de um filme cujo apelo social grita mais alto que qualquer outro fator, mas deixá-los de lado seria igualmente irresponsável. Se “Flor do Deserto” acertou no principal, alguns desvios e derrapadas também estão presentes. Determinados recursos de edição são exagerados, assim como algumas sequências do roteiro, o que se torna desnecessário devido ao apurado senso dramático da narrativa. Ao mesmo tempo, a originalidade de alguns ângulos, de alguns planos do deserto africano e de enquadramentos curiosos, também são marcas do filme. Preste atenção na sequência de imagens que precede a aparição dos créditos finais.
Sob todos os aspectos, positivos e negativos, o saldo final de “Flor do Deserto” é  interessante. Não é um filme indicado para quem prefere analisar o conjunto da técnica. Também não é um filme sobre uma ex-nômade que conseguiu vencer na vida e tornou-se uma modelo bem sucedida. Aqui, antes de tudo, os costumes de um povo são colocados em confronto direto com os danos que podem causar. E se a circuncisão  pode ser considerada como mais um traço da crueldade humana, Waris Dirie é a prova de que perder as esperanças na humanidade não é a melhor saída.

História de uma mulher negra da América do Sul, que nasceu na escravidão em 1850 e vive a se tornar uma parte do movimento pelos direitos civis nos anos 1960.

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