Eu voltei na verdade bem reflexiva e intrigada, infelizmente vi poucas mulheres na ativa por lá, a não ser nas artes cênicas, mas na literatura além de mim estava a Pilar e outra moça do Rio de Janeiro mangueando seus livros.
Depois de dois dias e meio tive experiências desastrosas que me fez refletir mais ainda o porquê não tinha tanta mulher presente. Na sexta - feira estava eu abordando as pessoas, divulgando os trabalhos e recebi duas propostas de gringos para fazer programa, a minha primeira reação foi a de me sentar num canto e ficar pensando (muito revoltada é lógico), enquanto os companheiros que foram comigo na viagem tentavam me reanimar. O que aconteceu comigo é natural para muitas pessoas, onde já se viu uma mulher negra, vendendo livros? Ninguém quer saber se escrevemos, nem nada, o certo é entrar na lógica do sistema. A nossa defesa acaba sendo não ficar sozinha se não a qualquer momento podemos sofrer assédio sexual e moral.
Estou dividindo isso pra podermos refletir cada vez mais o nosso papel como mulher nessa sociedade que só nos prostitui, sofremos esse tipo de assédio todos os dias, a culpa é do gringo que me assediou ou é do sistema que vende a imagem dos pais das mulatas da bunda grande?
Passamos também por uma cena lamentável, tinha um grupo de índios vendendo seus trabalhos na rua, logo mais veio à fiscalização apreendendo todo o trabalho artesanal deles, é uma impotência tão grande, pois no momento queria gritar, mas essa não seria a solução, o amigo Rodrigo Ciriaco fez um protesto com poesias, mas sabemos que o país é de todos menos de quem é daqui.
Depois de tudo isso a frase que ficou na minha cabeça é seguinte: "500 anos se passaram e continuamos invadidos!".
Axé!
Raquel Almeida
Eu numa intervenção poética
Pilar
Vagnão, eu, Ingrid e Rodrigo Ciríaco |
Guardas roubando os indios |
Sem dialogo |
Michel Yakini |
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