Mercado de Trabalho: A posição da mulher negra no mercado de trabalho
As mulheres negras, pelo fato de serem vítimas de dupla discriminação - de gênero e de raça -, estão em clara e acentuada desvantagem em todos os indicadores do mercado de trabalho. As taxas de desemprego são mais elevadas, seus rendimentos são significativamente inferiores, e elas estão representadas nas formas mais precárias de emprego (com destaque para o serviço doméstico e para o trabalho familiar não-remunerado).
INDICADORES RELATIVOS À SITUAÇÃO DAS MULHERES NEGRAS NO MERCADO DE TRABALHO BRASILEIRO (2001)
A taxa de desemprego das mulheres negras (13,8%) é 112,3% superior à dos homens brancos (6,5%), e essa diferença aumentou entre 1992 e 2001;
* a taxa de desemprego das jovens negras chega a 25%, o que significa que uma entre quatro jovens negras que trabalha ou procura ativamente um trabalho está desempregada; por sua vez, a taxa de desemprego das jovens brancas é de 20%, a dos jovens negros do sexo masculino é de 15,4%, e a dos jovens brancos, 13,6%;
* as mulheres negras recebem em média apenas 39% do que recebem os homens brancos por hora trabalhada;
* os rendimentos das mulheres negras em comparação com os dos homens brancos nas mesmas faixas de escolaridade em nenhum caso ultrapassam os 53%; mesmo entre aqueles que têm 15 anos ou mais de escolaridade, as mulheres negras recebem menos da metade (46%) do que recebem os homens brancos por hora trabalhada;
* essas diferenças de rendimento não se alteraram entre 1992 e 2001;
* 71% das mulheres negras estão concentradas nas ocupações precárias e informais; isso significa uma acentuada sobre-representação das mulheres negras nesse segmento do mercado de trabalho, que responde por 62% da ocupação dos homens negros, 54% da ocupação das mulheres brancas e 48% da ocupação dos homens brancos;
* 4% das trabalhadoras negras estão concentradas nas ocupações mais precárias e desprotegidas do mercado de trabalho: 18% são trabalhadoras familiares sem remuneração, e 23% são trabalhadoras domésticas; para as mulheres brancas essas porcentagens são, respectivamente, 13,5% e 14%.
Fonte: PNAD 2001. Elaboração: OIT.
A análise da pesquisa da Fundação SEADE e DIEESE, feita pela Articulação das Mulheres Negras Brasileiras, revela que duas mulheres negras valem pouco mais que uma mulher não-negra quando se comparam seus salários, segundo dados para 2000 (AMNB, 2001: 3). Em funções para as quais são exigidos determinados atributos estéticos, como vendedora, recepcionista e secretária, as brancas e amarelas estão quatro a cinco vezes mais representadas do que as negras . Por trás das exigências de “boa aparência ” freqüentemente existe uma resistência a aceitar trabalhadoras negras para esse tipo de função. Assim, a questão da “boa aparência”, exigência quase sempre feita pelas empresas para as mulheres em geral, tem efeitos perversos para as trabalhadoras negras.
Conforme os dados do “Mapa da População Negra no Mercado de Trabalho”, os negros - especialmente as mulheres negras - enfrentam fortes barreiras no acesso aos cargos de chefia, uma vez que isso significa reverter a lógica da subordinação “branco superior” versus “negro inferior”, um dos elementos fundamentais do racismo.
Segundo o Mapa, nas seis regiões metropolitanas estudadas (São Paulo, Salvador, Recife, Distrito Federal, Belo Horizonte e Porto Alegre), a proporção de trabalhadores ocupados em postos de trabalho de direção e planejamento - que englobam cargos de diretores, gerentes ou empregadores com os melhores salários e condições de trabalho - varia entre 6% e 15% entre os negros, enquanto entre os não-negros a proporção fica entre 18% e 29%.
Por outro lado, os trabalhadores negros representam a maior proporção de ocupados em funções não-qualificadas (atividades de execução/produção e de apoio em serviços gerais). A proporção varia de 24% a 30% entre os negros e de 10% a 17% entre os não-negros.
O Mapa mostra que a situação das mulheres negras é ainda pior: a proporção delas que ocupa postos de trabalho de direção e planejamento varia entre 5% e 12,4% (entre os homens não-negros varia de 19,3% a 31,6%). No outro extremo, as mulheres negras representam a maior proporção de ocupadas em funções não-qualificadas (entre 26,1% e 32,3%), enquanto para os homens não-negros o número varia entre 3,7% e 7,4%.1 1 Esses dados evidenciam que a discriminação racial é um fato presente cotidianamente e reafirmam a existência de um “lugar de negro” no mercado de trabalho (Gonzalez e Hasenbalg, 1982).
Fonte: UniSerpro
postado por: Juliana Queiroz
Coletivo Cultural Esperança Garcia
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