quarta-feira, 8 de março de 2017

Nosso Dia


Ano passado recebi um convite da Lunna Rabetti para falar sobre violência doméstica e, apesar de não vivênciar o tema academicamente posso dizer que tenho todas as refências e vivências possíveis para realizar essa troca. Fui organizar a apresentação e decidi buscar dados e estatísticas que tratassem do tema, apesar de observar e, muitas vezes até vivenciar a violência cotidianamente conforme fui analisando esses dados a tristeza se fez maior e foi impossível conter as lágrimas. Compartilho aqui com vocês os dados que apresentei dificilmente nesse bate papo que fui convidada e convido vocês a refletir, e pensar conjuntamente  ações de fortalecimento que contribuam para acabar com essa barbárie.
Estou muito feliz porque em meio a tantos desafios passados e que me propus a esse ano, fui selecionada, depois de três tentativas, para o curso de Promotras Legais pela União Popular de Mulheres, espero que o curso possa me orientar e trazer ferramentas para que eu desenvolva na comunidade onde vivo e, em outros espaços, com ações de fortalecimento e ampliar a  redes de apoio às mulheres vítimas de violência domêstica.

ALGUNS DADOS

Programa Caminhos da Reportagem - Filhos da Violência , nos mostra o que a violência pode ocasionar á uma criança.

Violência Doméstica é mais comum entre famílias com filhos
- 70% que vitimas de violência tinham filhos.
- 8 de cada 10 filhos presenciaram ou , também, sofreram violência.

Fonte: Dados Governo 2015

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Brasil a situações de violência
- 2012 pesquisa do IBGE mostraram que 42 MIL foram ASSASINADAS em 20 anos.
- 70% crianças acontecem em casa e o número de crianças expostas a esse tipo de violência é incalculável.
Os estudos apontaram que crianças que presenciam essas situações podem se tornar futuros agressores. A criança pode sofrer um grande impacto psicológico pois, ao presenciar a violência, essa interfere significativamente em seu desenvolvimento emocional. Além disso, passa a não acreditar em si próprio, desenvolve a habilidade de confiar nos outros sempre desconfiando e, podem se tornar apáticos e indiferentes em sua fase adulta a situações de violência.

- A violência não é apenas FISÍCA - um homem que pratica violência contra a sua mulher automaticamente pratica violência contra seu filho.

Fonte: Laboratório de Saúde Mental Coletiva- Grupo de Pesquisa da USP

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- 4762 assassinatos de mulheres foram em 2013 no Brasil.
50,3% cometidos por familiares, sendo que 33,2% destes casos, o crime foi praticado pelo parceiro ou ex.

Essas quase 5 mil mortes representam 13 homicídios femininos diários.


O MAPA DA VIOLÊNCIA lançado em 2015  traz os seguintes dados:

- 106.093. brasileiras foram assassinadas;
- 2003  a 2013 cresceu o número de mortes de mulheres de 3937 para 4762, ou seja, mais de 21% na década.
- Homicídios de mulheres negras aumentou em 54% nos últimos 10 anos:
  2003 = 1864 mortes
 2013 = 2875

No mesmo período o número de mulheres Brancas diminuiu 9,8% :
2003= 1747 mortes
2013= 1576


 3 em cada 5 mulheres jovens já sofreram violência em relacionamentos
Fonte: Data Popular/Avon 2014


A violência contra a mulher está presente em nosso cotidiano muito mais do que imaginamos e vai para além da relação entre casais, existem famílias onde pais, mães, tios, tias, primos, primas, sobrinhos e toda essa rede consanguínea extrapolam os direitos familiares e atacam o outro em situação de fragilidade sem o menor pudor e, o pior vivenciar essas violências nesses ambientes torna-se tão naturalizado que qualquer reação de contradizer as regras abusivas é o motivo para rompimentos. Muitas mulheres acabam por se calarem por não terem para onde ir aceitando as "verdades" que lhes são impostas. Outra situação que podemos observar como violência contra a mulher é quando ela assume a linha de frente da família e se torna responsável pela contratação de serviços de manutenção ou aquisição de bens, em diferentes situações sua inteligência será testada pelos famosos espertões. São várias as denúncias e abusos, desde as cantadas baixas e a exigência de pagamento adiantado, percebe-se que a maioria dos homens se acham no direito de fazer o que lhes convêm ( material espalhados sendo desperdiçados, chegar e sair o horário que quer, aparecer para o serviço quando quer, etc)  são apenas  exemplos em esferas diferentes que nós mulheres negras e pobres passamos cotidianamente, sem falar do assédio dentro dos transportes públicos, piadinhas ao andar na rua e o achar que se você está sozinha deve se abrir a qualquer situação barata que aparece.

Avançamos em diferentes discussões com relação ao tema mas ainda continuamos sendo estatísticas cotidianas de um sistema machista que nos oprime e muitas vezes não nos dá condições de viver em liberdade dentro da sociedade.

Um feliz 08 de março e todos os dias para nós mulheres.


axé!



Juliana Amazi Balduino

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