sexta-feira, 25 de julho de 2014

Reflexões do dia 25 de julho


Hoje o dia é nosso. Dia que foi escolhido para discutirmos nossas vivências, presenças e ausências, dia de luta, dia de reflexões, dia de discutir nosso papel na sociedade. Peraí, nosso papel? Esta aí uma questão que sempre me intriga. Fico pensando nos tantos papeis que desempenhamos, não, não usarei chavões porque essas todas nós já gritamos muito aos ventos.
Hoje, gostaria muito que fosse uma data festiva, uma data em que realmente pudéssemos estar juntas, uma data que rendesse homenagens em escolas a tantas mulheres negras heroínas que temos na nossa historia, queria que fosse um dia em que eu olhasse pra minha vó, mãe e filha e desse os parabéns e elas por sua vez sentisse que esta data as representasse. Nosso tão dito papel, sempre foi de plantar as sementes, o papel de nutrir de ensinar, papel de fazer o campo florir, isso é desde os tempos de casa grande.
Eu ainda acredito em um dia que possamos andar nas ruas com nossos turbantes, de dreads, de Black, de tranças, com nossos colares, com nossas roupas coloridas, sem ter que ouvir piadas, e não estou dizendo de espaços que não pertencemos, estou falando de espaços onde nascemos, crescemos, criamos nossos filhos e amamos. Nossa periferia ainda esta anestesiada, foram e são tantas repressões que não conseguimos nos olhar como igual pode ser utopia, mas sonho ainda com a unidade, mas pra isso acontecer o trabalho começa na base e infelizmente a tv ainda exibe como modelo padrão de mulher brasileira bonita e bem sucedida as fernandas limas e giseles bündchens.
Vejo que nosso papel além de batalhar por uma data nossa, é fazer com que essas comemorações, discussões cresçam ao longo dos anos, fazer com que na sala de aula seja dito que nós temos um dia, passar na rua e ser didáticas quando um parceirinho da quebrada tira um sarro. Nossa unidade começa daí, é lindo e glamuroso estarmos em estandartes com a cabeça erguida recebendo congratulações dentro de centros de saberes enquanto as mulheres negras das periferias nem sabem que são negras não sabem que existe o 25 de julho e o 20 de novembro, não digo que temos que ser messias, sair por aí com cartilhas, expulsando as chapinhas em nome de jesus, não, até porque nós também somos frutos das mulheres que nos antecederam nas discussões e são respeitadas por isso.
Tudo que foi escrito são reflexões, há muros que rompemos e outros que construímos, e existem muros entre nós, e esses ainda são os mais difíceis de romper, muito me alegra a insistências das parceiras Capulanas manterem uma sede na quebrada, do coletivo cultural Esperança Garcia optar em fazer formações que discutem a saúde da mulher num bar, de professores amigos que lembram data e falam em sala de aula, são ações assim que criam vínculos e fortalecem.
Há uma barreira entre nós e temos que daqui em diante pensar nos meios de rompê-las.
Parabéns pra nós
E que nossas ações não sejam solitárias.
Axé
Raquel Almeida

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