Hoje o dia é nosso. Dia que foi escolhido para discutirmos nossas
vivências, presenças e ausências, dia de luta, dia de reflexões, dia de discutir
nosso papel na sociedade. Peraí, nosso papel? Esta aí uma questão que sempre me
intriga. Fico pensando nos tantos papeis que desempenhamos, não, não usarei
chavões porque essas todas nós já gritamos muito aos ventos.
Hoje, gostaria muito que fosse uma data festiva, uma data em
que realmente pudéssemos estar juntas, uma data que rendesse homenagens em
escolas a tantas mulheres negras heroínas que temos na nossa historia, queria
que fosse um dia em que eu olhasse pra minha vó, mãe e filha e desse os
parabéns e elas por sua vez sentisse que esta data as representasse. Nosso tão
dito papel, sempre foi de plantar as sementes, o papel de nutrir de ensinar,
papel de fazer o campo florir, isso é desde os tempos de casa grande.
Eu ainda acredito em um dia que possamos andar nas ruas com
nossos turbantes, de dreads, de Black, de tranças, com nossos colares, com
nossas roupas coloridas, sem ter que ouvir piadas, e não estou dizendo de
espaços que não pertencemos, estou falando de espaços onde nascemos, crescemos,
criamos nossos filhos e amamos. Nossa periferia ainda esta anestesiada, foram e
são tantas repressões que não conseguimos nos olhar como igual pode ser utopia,
mas sonho ainda com a unidade, mas pra isso acontecer o trabalho começa na base
e infelizmente a tv ainda exibe como modelo padrão de mulher brasileira bonita
e bem sucedida as fernandas limas e giseles bündchens.
Vejo que nosso papel além de batalhar por uma data nossa, é
fazer com que essas comemorações, discussões cresçam ao longo dos anos, fazer
com que na sala de aula seja dito que nós temos um dia, passar na rua e ser didáticas
quando um parceirinho da quebrada tira um sarro. Nossa unidade começa daí, é
lindo e glamuroso estarmos em estandartes com a cabeça erguida recebendo congratulações
dentro de centros de saberes enquanto as mulheres negras das periferias nem
sabem que são negras não sabem que existe o 25 de julho e o 20 de novembro, não
digo que temos que ser messias, sair por aí com cartilhas, expulsando as chapinhas
em nome de jesus, não, até porque nós também somos frutos das mulheres que nos
antecederam nas discussões e são respeitadas por isso.
Tudo que foi escrito são reflexões, há muros que rompemos e
outros que construímos, e existem muros entre nós, e esses ainda são os mais difíceis
de romper, muito me alegra a insistências das parceiras Capulanas manterem uma
sede na quebrada, do coletivo cultural Esperança Garcia optar em fazer
formações que discutem a saúde da mulher num bar, de professores amigos que
lembram data e falam em sala de aula, são ações assim que criam vínculos e
fortalecem.
Há uma barreira entre nós e temos que daqui em diante pensar
nos meios de rompê-las.
Parabéns pra nós
E que nossas ações não sejam solitárias.
Axé
Raquel Almeida
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